Os aluninhos do Quartel

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Os aluninhos do Quartel

Em 02/02/2015, por Paulo Domingos da Silva Monteiro


Está na moda questionar os conteúdos dos livros didáticos distribuídos às escolas públicas. Fazem propaganda contra Deus, a Família e à Propriedade, afirmam os questionadores. Confesso que, há muitos anos, não leio livros didáticos. Portanto, desconheço os conteúdos recentes.

Os jovens da minha geração, aqueles que estudamos em escolas públicas entre 1960 e 1980, sabemos o que é propaganda política nas escolas. Os livros de História do Brasil eram verdadeiras obras laudatórias, derramando elogios à "Revolução de Março" e lançamento de maldições contra o Comunismo. Além disso, existiam outras duas disciplinas: EMOCI - Educação Moral e Cívica - e OSPB - Organização Social e Política do Brasil -, ambas no mesmo diapasão. Todas essas três matérias, mera repetição do discurso emanado da Escola Superior de Guerra.

Isto posto, cresci recebendo doutrinação política, num sentido único, autoritário: propaganda dos governos presididos por generais, suas leis de exceção e anticomunismo. Possuo livros com os conteúdos daquela época e posso resenhá-los página por página.

Nas escolas existiam os Centros Cívicos, organizações que objetivavam expandir essa propaganda ideológica entre os estudantes e formar lideranças segundo essa doutrinação estatal. Integrei o Centro Cívico Dom Pedro II, da atual Escola Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro. O Centro promovia palestras com pessoas ligadas à ARENA - Aliança Renovadora Nacional -, o partido governista. Jamais eram convidados militantes do MDB - Movimento Democrático Brasileiro -, por mais moderados que fossem.

Um prática bastante comum era a comemoração de "datas cívicas" (31 de março, 21 de abril e assim por diante) com palestras no Auditório do Exército. Hoje, passados tantos anos, lidos e relidos tantos livros, discutido com tantas pessoas, fico admirado com falta de conteúdos naquelas palestras que éramos obrigados a escutar.

Não sei de onde os governos daquelas décadas pretéritas retiraram aquele método de doutrinação de massa. Seguramente, não foram buscá-lo em algum país democrático.

Confesso que, num fim de semana destes, dispensarei algumas horas para ler os conteúdos ensinados nas escolas de hoje.

Aquilo (dos meus tempos de Ginásio e Científico) é que era doutrinação política! Ah! se os governos atuais adotassem aquele modelo de lavagem cerebral! Aí é que os defensores da "honestidade intelectual" (para os outros, é claro!) iam pirar de vez!

Para encerrar, fique bem claro: Sou favorável à liberdade de cátedra, adversário de toda e qualquer forma de doutrinação escolar patrocinada por quem quer que seja.