A sétima arte

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A sétima arte

Em 07/08/2007, por Marco Antônio Damian


Marco Antonio Damian[1]

Roberto Silva, também conhecido por Robertinho era um paulista que chegou a Passo Fundo na primeira década do século XX com uma idéia fixa na cabeça e uns estranhos aparelhos nas mãos. Alugou um velho galpão na Rua General Neto, onde hoje se situa o Banrisul, que pertencia ao capitão Jovino Freitas e ali instalou a primeira sala de cinema de Passo Fundo. Chamava-se Cinema Patê. Conta o médico Jovino Freitas, que em meio à sessão cinematográfica, muitos ratos corriam insistentemente nos caibros que sustentavam o telhado. Robertinho, o pioneiro, instalou seu cinema em outros locais, como na Rua Morom, defronte à Praça Marechal Floriano. Ainda na década de 1910, outra sala foi instalada na Av. Brasil esquina com a Sete de Setembro. Chamava-se Cinema Central e pertenceu à família Reichmann, que posteriormente transferiu-se com cinema e tudo para Erechim.

O primeiro grande cinema de Passo Fundo foi inaugurado em 1920. Era o majestoso Cinema Coliseu, situado na Rua General Neto de propriedade de Florêncio Della Méa. Tinha a capacidade para aproximadamente 500 espectadores e três tipos de ingressos. A platéia, sentava-se em cadeiras de palha de frente para a tela, a frisa e os luxuosos camarotes. Nessa época o cinema ainda não tinha sonorização. Assim, orquestras tocavam música durante toda a exibição do filme, como Claro Pereira Gomes, Ormino de Freitas Ubaldo, Quirino Barbosa e Felipe Passe. Essa situação perdurou até 1931, quando os filmes chegaram com sonorização parcial. Nos momentos em que as cenas eram silenciosas uma vitrola era acionada para entreter os assistentes.

O Cinema Coliseu também foi palco de shows que marcaram a sociedade passofundense, como o do Teatro de Revista com a vedete Virginia Lane e suas pernas perfeitas, o ator Procópio Ferreira, o cantor/tenor Vicente Celestino e o Rei da Voz, Francisco Alves. Grandes clássicos do cinema ganharam a tela do Coliseu. Por exemplo: “M”, o vampiro de Dusseldorf; Encouraçado Potenkim; Maria Antonieta; Luzes da Cidade e todos os outros filmes de Charles Chaplin.

Em 1948, o Cinema Coliseu foi destruído por um incêndio que acabou também com o Café Colombo, que se situava ao lado. Alguns anos depois foi reconstruído e voltou a funcionar, até meados de 1953, quando a Empresa de Cinemas Rossi, de Porto Alegre, adquiriu o cinema e mudou seu nome para Cine Real. Ainda no final dos anos 30, o empresário Eduardo Valandro abriu o Cine Imperial, situado na Rua Bento Gonçalves esquina com a Rua General Osório. Pouco tempo depois da inauguração, um incêndio terminou com a sala de cinema. Assim, já nos anos 40, o Cinema Imperial, ainda com o mesmo proprietário, ressurgiu na parte térrea do Ed. Rotta, na Rua General Neto, até sua extinção.

Outras duas salas tiveram seus dias de glórias nos anos 30, quando empresários viam nas salas de cinemas um negócio altamente rentável. Um deles teve vida efêmera, o Cine Avenida, situado na Rua Morom. Outro durou pouco mais de cinco anos, o Cine Rex, localizado na Avenida Brasil, entre as Ruas Bento Gonçalves e General Neto. O Cine Rex passava seriados, ou seja, um filme era cortado em seu momento mais crucial para ter continuidade no domingo seguinte.

Com a chegada da Empresa de Cinemas Rossi em Passo Fundo adquirindo os cinemas Coliseu, depois Real e Imperial, o segmento ficou monopolizado. O Cine Real foi transformado numa grande sala, com mais de mil assentos. Era chamada “A Casa dos Grandes Espetáculos”. A sessão das 20 horas no domingo era um grande acontecimento.

O Cine Real ficou em atividade até o final dos anos 70, quando deu lugar a um banco. Ainda da Empresa Rossi foi inaugurado, em 1967, o Cinema Coral, na Vila Rodrigues. A cidade crescia pelos lados da Praça Santa Terezinha e no bairro São Cristóvão. Assim, o Cine Coral viria atender àquela população.

Desde a década de 50, a Empresa Turismo Cine-Hotéis Reunidos, de propriedade de Tadeu Nedeff, construía um hotel de luxo, defronte à Praça Marechal Floriano. Junto a esse havia uma sala de cinema que serviria também para shows e peças teatrais. Inaugurado em 1962, o Cine Teatro Pampa realmente era luxuoso. Suas cadeiras estofadas abrigavam duas mil pessoas. O Cine Teatro Pampa era palco de shows imperdíveis, como Nelson Gonçalves, Ângela Maria, além de peças de teatro, onde a magnífica Sandra Bréa ficou nua para mais de duas mil pessoas que se acotovelavam até nos corredores do Pampa.

Em 14 de dezembro de 1968, um grande estrondo seguido por chamas gigantescas e muita fumaça saíam do Pampa. Muito se perdeu, mas felizmente, o hotel ficou intacto. O cinema ficou dois anos em reconstrução. O Cine Pampa voltou a funcionar no natal de 1970, com o filme O planeta dos macacos; fechou definitivamente em 2005 e se transformou num estacionamento.

Atualmente, as salas se posicionaram nos shoppings. Duas salas no Shopping Bella Cittá e outras duas no Bourbon. São pequenas, mas confortáveis, modernas e atendem perfeitamente aos cinéfilos.

Referências

  1. Historiador; Membro da Academia Passo-Fundense de Letras;