Semana Farroupilha 2010

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Semana Farroupilha 2010

Em 24/08/2010, por Paulo Domingos da Silva Monteiro


Semana Farroupilha 2010:

Ideais, Cidadania e Revolução dos Farrapos

Paulo Monteiro


O tema da Semana Farroupilha deste ano continua um processo que vem sendo praticado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) objetivando desenvolver o conhecimento da história rio-grandense. Trata-se de uma proposta altamente positiva no caso de proporcionar uma discussão aberta sobre o assunto.

O desenvolvimento dos estudos históricos nas últimas décadas, mormente com a História Crítica, acabou humanizando os chamados heróis e repôs os acontecimentos à condição de atos humanos.

A proposta de trabalho visa apresentar os ideais que levaram à Revolução Farroupilha, confrontando a elite criatório-exportadora ao confronto armado com o Império. O aprofundamento desses estudos levará à conclusão inexorável de que os ideais são movidos por interesses materiais e, ao mesmo tempo, movem esses interesses.

A cidadania da época, outro ponto proposto, mostrará que os rebelados não iam muito além da monarquia constitucional, se tanto. A luta desesperada para receber do Império indenizações de guerra, inclusive dos “escravos libertados”, colocada muitas vezes sob suspeição pelo próprio Bento Gonçalves da Silva, comprova as limitações do idealismo, conforme concebido pela filosofia do senso comum.

Para entender os ideais há um texto interessante intitulado As causas da Revolução Farroupilha, de autoria de Sérgio da Costa Franco, publicado às páginas 53 a 61 da Revista do Instituto Histórico do Rio Grande do Sul, número 23. O conhecido historiador mostra as divisões ideológicas e os interesses políticos que entraram na disputa pelo poder provincial. Tudo isso retirado de obras clássicas sobre aquele movimento armado.

Jean Roche, autor de trabalhos fundamentais sobre a História do Rio Grande do Sul, reuniu e analisou documentos oficiais do período que vai de antes até um pouco depois da Revolução Farroupilha em L’ADMINISTRATIO DE LA PROVINCIE DU RIO GRANDE DO SUL DE 1829 À 1847 (Gráfica da Universidade do Rio Grande do Sul, 1961). O texto em francês já deveria ter sido traduzido ao português. Esses documentos mostram as deficiências da Província. As deficiências gravíssimas quanto aos meios de transporte, ao ensino, ao cumprimento das leis e a tantos outros elementos essenciais à vida civilizada ali estão documentados. As causas e a movimentação das tropas, rebeldes e legais, podem ser encontradas em estudos sobre aquele período, como os livros de Dante de Laytano, Morivalde Calvet Fagundes e Moacyr Flores.

Os livros sobre a Revolução farroupilha contribuem para entender alguns aspectos propostos para a teatralização nos desfiles temáticos como: os ideais farroupilhas, com a ação da assembléia provincial e das lojas maçônicas; a apresentação dos líderes com suas características; os estrangeiros engajados na idéia republicana; as capitais farroupilhas; a proclamação da República Rio-Grandense e seus símbolos como a bandeira e o hino, além dos líderes e seus destinos.

Outros aspectos propostos como a vida em família; o trabalho, com a lida de campo e as charqueadas; a religiosidade, com a presença do padre, o casamento e o batizado, além das festas devem ser buscados nas obras dos viajantes estrangeiros, como Auguste de Saint-Hilaire, autor de Viagem ao Rio Grande do Sul (Martins Livreiro Editor, 2ª edição, Porto Alegre, 1997) e Arsène Isabelle no livro também intitulado Viagem ao Rio Grande do Sul, (Martins Livreiro Editor, 2ª edição, Porto Alegre, 1983). Jean Roche no corpo do livro antes citado e nas notas do seu livro também trata de aspectos superestruturais da sociedade rio-grandense.

Ademais, nos últimos anos têm sido publicados estudos acadêmicos extremamente úteis ao aprofundamento dos estudos sobre o dia-a-dia na primeira metade do Século XIX.

São destacadas as figuras mais importantes da Revolução, tais como: Bento Gonçalves da Silva. Antônio de Souza Neto, José Gomes Vasconcelos Jardim, Onofre Pires da Silveira Canto, Joaquim Teixeira Nunes, David Canabarro, Antonio Vicente da Fontoura, Domingos José de Almeida, Manoel Lucas de Oliveira, José Mariano de Matos e os padres Francisco das Chagas Martins de Ávila e Souza e Hildebrando de Freitas Pedroso. Dentre os estrangeiros aparecem como expoentes: Guiuseppe Maria Garibaldi, Luigi Rosseti, Tito Lívio Zambecari e John Pascoe Grenfell.

Além das diversas obras sobre a Revolução Farroupilha e biografias individuais de alguns vultos proeminentes como Bento Gonçalves da Silva, David Canabarro, Antonio Vicente da Fontoura, Guiuseppe Garibaldi, Domingos José de Almeida e Caxias, o estudo da vida dessas personalidades pode começar por obras como Vultos e Fatos do Rio Grande do Sul, de Aquiles Porto Alegre e Vultos da Epopéia Farroupilha, de Ottelo Rosa. Mais recentemente a Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul publicou o Dicionário da História do Brasil, de Moacyr Flores, obra indispensável e mais atualizada com “rápidas informações sobre fatos históricos, biografias, definições e conceitos de história”. O livro, feito sobre anotações usadas pelo historiador para facilitar suas aulas, hoje é volume prático para consultas de tantos quantos queiram entender a história rio-grandense.

Para quem deseje entender os meandros históricos do período farroupilha, recomendo a leitura dos milhares de documentos publicados em cerca de duas dezenas de alentados volumes dos Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Esses documentos integram a chamada Coleção Alfredo Varela, servindo de base para que aquele polêmico historiador escrevesse volumosa obra.