A Batalha do Pulador, história

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A Batalha do Pulador, história

Em 30/11/2004, por Antônio Ferreira Prestes Guimarães


A Batalha do Pulador[1]


ANTÔNIO FERREIRA PRESTES GUIMARÃES, In memoriam


No dia 26 de junho, toda a força revolucionária passou, ao som de música, pelo centro da cidade de Passo Fundo, de Leste para Oeste, indo pernoitar no "Pinheiro Torto", que fica a 6 quilômetros, na estrada da Cruz Alta. No dia seguinte, 27, ao encetar a marcha para a frente, encontrou no "UMBU" as avançadas do exército de Lima, travando desde logo combate, e recuando essas avançadas até perto da Fazenda de Antônio de Mello, no "Pulador", 12 a 13 quilômetros de Passo Fundo. Aí feriu-se grande e renhidíssima batalha. O local fora escolhido pelo chefe das forças legalistas, sendo quase inacessível às evoluções da cavalaria revolucionária-que pouco fez na ocasião mais decisiva da batalha, por essa circunstância, tendo operado com melhor sucesso no começo da peleja em que o campo prestava-se regularmente às manobras. Depois de 6 horas de fogo as forças revolucionárias retiraram-se em boa ordem do campo da luta, voltando ao Pinheiro Torto, sem perseguição do inimigo, salvo alguns tiros perdidos de canhão. E que o inimigo tinha de atender aos estragos que sofrerá. Estava vitorioso simplesmente por ter ficado ocupando o campo da luta, pois perdera em seus quadros de infantaria, dizimados de perto a descargas de ManuIinch, maior número de mortos e feridos, que os contrários retirantes, como depois se verificou com exatidão. Tiveram os revolucionários 88 mortos, contados insepultos no campo, alguns dias depois, e quase 200 feridos, incluso o valente Apparício, o Mello, o José Silveria Martins e tantos outros bravos. Foi a maior perda dos legalistas. (23) Algumas centenas de mortos e cerca de mil feridos, senão mais, o que cuidadosamente trataram de ocultar, para diminuir o efeito moral da verdade dessa, para eles, vitória de Pirro. Na sangrenta batalha do "Pulador", saíram feridos o próprio General Lima, e alguns de seus oficiais superiores. No dia seguinte, junho, 28, o exército revolucionário marchou do "Pinheiro Torto", ao raiar da aurora, em direção a Soledade. Em Passo Fundo ficou, porém, de observação, o chefe Veríssimo - com seu denodado corpo de patriotas. Houve-se no desempenho dessa arriscada tarefa com o valor e perícia do costume. Do exército de Lima, que se pôs em marcha pela estrada da Cruz Alta, enterrando a cada momento pelo caminho os feridos que faleciam, destacou-se uma coluna a mando de Santos Filho, para esperar em Passo Fundo, onde bateu-se por três dias consecutivos, - 28,29 e 30 de junho - com a gente de Verísismo, sem resultado satisfatório, pelo que, em 1°. do mês de julho, tocou em retirada ao rumo da Cruz Alta. Então Verísismo, sem inimigo pela frente, pode, muito a salvo, mandar conduzir da serra para o campo os últimos cargueiros de munição, uma metralhadora, e os derradeiros comandados de Gomercindo que, doentes, ou por qualquer outro motivo, tinham ficado para trás - internados no seio da imensa floresta. Em meados de julho, o exército revolucionário acampava na embocadura Leste do "Campo Comprido", a 40 quilômetros da vila da Soledade, pouco distando, portanto, do Passo do Jacuí Grande. Enviou daí para as "Quatro Léguas" uns vinte dos seus feridos, especialmente recomendados ao prestimoso chefe, José Antônio Ferreira, que relevantes serviços prestou naquele ponto à causa da liberdade da sua terra. (24)

Com esses feridos, seguiu Alexandrino, destemido marítimo, ex-comandante do velho encouraçado - Aquidaban - vindo de Santa Catarina com o agente de Gomercindo, porém fazendo parte da coluna serrana de Prestes Guimarães, desde que pisou o solo rio-grandense. (25) Entrementes, o Coronel Thomaz Flores invade o município da Soledade, à testa duma forte coluna do governo, vadeando com ela resolutamente o Passo do Jacuí Grande. Os chefes revolucionários deliberaram não atacar a coluna Flores na passagem do Campo Comprido, que admiravelmente se prestava para isso, em razão de não aumentar ainda mais o número já tão avultado de feridos, de difícil condução, sendo que não pretendiam estabelecer quartéis de inverno em Soledade. Em conseqüência, erguendo acampamento do "Campo Comprido", marcharam à direita, rumo da Serra de baixo, também denominada do "Pessegueiro", e repassando o Jacuizinho, após duas jornadas, por um pique não freqüentado, estavam, outra vez, na estrada geral da Cruz Alta, da qual se tinham desviado com a batalha do "Pulador". Prosseguiram essa marcha sem interrupção para "Carovi"- passando pela estrada da Conceição, Cruz Alta à esquerda e Santo Ângelo à direita. Do Lagoão foi expedida uma força, comandada por Elisário Prestes e Borges Vieira, a Cruz Alta tendo por fim unicamente entreter a atenção dos contrários, enquanto o exército passava adiante pela dita estrada da Conceição. Os cruz-altenses alarmados fugiram espavoridos, mas a força revolucionária, cumprindo instruções, não entrou na cidade. A narrativa do que sucedeu em "Carovi", onde a revolução perdeu ao grande Gomercindo, quando este fazia um simples reconhecimento, prendeu-se aos sucessos da revolução na região Missioneira, e aí, logicamente, terá cabimento. A morte de Gomercindo a 10 de agosto em Carovi, enchendo de justa mágoa os corações patrióticos, foi um eclipse fatal para a revolução.

(23) Os corpos de cavalaria tiveram mortos e feridos, principalmente o corpo do denodado e humanitário Pedro Bueno de Quadros, que perdeu o cavalo em que montava, morto na peleja. Elisário Prestes também teve o cavalo morto. Ditos Comandantes, bem como José Borges, Veríssimo, Chico dos Santos, e outros, sempre impretéritos (nota do próprio punho do General Prestes Guimarães).

(24) Juca Ferreira prestou nas "Quatro Léguas" valiosíssimos serviços à causa sacrossanta da Revolução. Foi um valente, que soube desempenhar seu posto de comandante com brio notável e convicção inexcedível. O Dr. Ângelo Dourado confundiu seu nome com o Coronel Antônio Baptista - da Soledade - outro patriota estimável. (Nota do punho do General Prestes Guimarães).

(25) O bravo Alexandrino Alencar também seguiu com os feridos para as "Quatro Léguas", em demanda de sua casa, ou parentes, em Santa Cruz. Por aí ficou, sem conseguir reunir-se outra vez aos companheiros de causa, que foram obrigados a seguir rumo diferente. (Nota do punho do General Prestes Guimarães).

Nota dos Editores - Antônio Ferreira Prestes Guimarães nasceu no dia 13 de junho de 1837, em Passo Fundo, e aqui também faleceu, a 19 de setembro de 1911. Exerceu a advocacia, foi Juiz de Paz, vereador e presidente da Câmara Municipal (1883/1886), deputado provincial (estadual), em 1885,1887 e 1889, presidente da Província (governador do Estado), de 25 de junho a 8 de julho de 1889, e um dos mais importantes comandantes maragatos durante a Revolução de 1893. Na Batalha do Pulador, comandou a cavalaria, constituída quase exclusivamente de serranos. O texto acima foi retirado de A Revolução Federalista em Cima da Serra (Martins Livreiro, Porto Alegre, 1987), páginas 52, 53 e 54. A obra circulou reproduzida sobre gelatina, antes que fosse editada pelo historiador Sérgio da Costa Franco, a partir de cópia obtida em Soledade, com o advogado Caio Craccho Serrano, já falecido. O título original da obra de Prestes Guimarães era "Apontamentos Históricos da Revolução Civil do Rio Grande do Sul na Zona Serrana". Conservamos as notas, com a numeração constante da edição de Martins Livreiro.

Referências

  1. Publicado na Revista Água da Fonte nº 2