A Capela

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A Capela

Em 28/11/1999, por Welci Nascimento


Passo Fundo nasceu sob a proteção de Nossa Senhora. Desde o momento em que por aqui pareceram os primeiros moradores, uma das primeiras coisas que fizeram foi levantar uma igreja. Povoadores de origem lusa, certamente traziam consigo a fé em Jesus Cristo e Nossa Senhora, transmitida por seus ancestrais.

Como sabemos, quase todos os povoados brasileiros nasceram em torno da construção de uma igreja e de um cemitério. Os primeiros moradores de Passo Fundo assim fizeram. Construíram uma igreja e, ao lado, construíram um cemitério. Além de suas casas de moradia, tiveram a iniciativa de construir o que eles chamaram de Capela, em honra a Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

O culto à Imaculada Conceição faz parte das mais antigas e veneráveis tradições brasileiras. Dom João IV, em 1646, consagrou Portugal e todos os seus domínios a Nossa Senhora. O Brasil, por fazer parte dos domínios portugueses foi também consagrado a Nossa Senhora. Passo Fundo, desde sua fundação, foi consagrado a Nossa Senhora da Conceição Aparecida, vivendo sob o manto de Maria.

Era voz corrente, segundo se sabe pela tradição transmitida de geração em geração, que os tropeiros, depois de descobrirem o caminho mais curto para atingir ou ligar a Província do Rio Grande do Sul a São Paulo, costumavam sestear no lugar chamado de Passo Fundo. Diziam eles que “naquele lugar havia gente, gaita e erva boa para o chimarrão”.

Por força das guerras cisplatinas, aqui chegou o paulista da Comarca de Curitiba Manoel José das Neves para tomar posse de uma gleba de terra para morar. Lá pelos anos de 1834 ou 1835, no topo de uma coxilha, bem à vista dos tropeiros, Manoel José das Neves doou um pedaço das suas terras para erguer uma capela. Mais tarde, um grupo de moradores liderado pelo também paulista Joaquim Fagundes dos Reis, que tinha sido designado comissário no território de Passo Fundo, mais tarde elevado a juiz de paz, em 1834, encaminhou um pedido à autoridade eclesiástica para construir uma capela, que seria em honra a Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

O terreno para nele construir a Capela foi doado por Manoel José das Neves, cabo da milícia imperial. Tal área de terras era em torno de meia quadra de sesmaria, hoje, praticamente o centro da cidade de Passo Fundo.

Em torno da Capela, os moradores foram construindo suas casas, com autorização da autoridade pública municipal, por meio de um alvará de posse. Em qualquer lugar do nascente povoado eram expedidas tais licenças, como uma maneira de aumentar a população e incrementar o desenvolvimento. O título definitivo de propriedade vinha depois, com o tempo.

Assim como recebeu de graças a gleba de terras do Império, de graças ele passou a Nossa Senhora. Só mais tarde, lá pelo ano de 1884, sua filha e herdeira, Maria da Rocha Neves, foi ao cartório de Passo Fundo e lavrou uma escritura pública ratificando e retificando a doação que seus pais fizeram à Igreja Católica.

Certo dia, dois homens probos realizara um acerto para solucionar um problema jurídico relacionado com os terrenos da igreja e ocupados por tantas famílias. Foram eles Daniel Dipp, prefeito municipal, e Cláudio Colling, bispo diocesano de Passo Fundo. Nessa altura dos acontecimentos, já estávamos na década de 50 do século XX. Veja só o espírito de despojamento da filha de Manoel José das Neves declarando que seu pai tinha, realmente, concretizado a doação dessa imensa área de terras, hoje o centro da cidade de Passo Fundo. E ainda tem gente que bota briga por um metro de terra que, no fundo, no fundo, não é seu.

A capela levantada em honra a Nossa Senhora da Conceição parecida conseguiu ficar em pé até alguns anos depois da instalação oficial do município de Passo Fundo, em 7 de agosto de 1857, quando os conselheiros solicitaram a instalação de uma paróquia.

Hoje, a Capela, mais tarde denominada de Igreja Matriz, se encontra na Rua Uruguai, desde o final do século XIX, nas imediações da praça mais antiga da cidade, a Praça Tamandaré.

No terreno da antiga capela foi construída, muitos anos depois, a majestosa Catedral Nossa Senhora Aparecida, padroeira da Diocese de Passo Fundo. Ela é o retrato vivo da nossa história e do nosso desenvolvimento, material e espiritual.