A trajetória política de Prestes Guimarães

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Autor Mariluci Melo Ferreira
Título A trajetória política de Prestes Guimarães
Assunto História
Formato E-book (formato PDF)
Editora Projeto Passo Fundo
Data da publicação 2014
Número de páginas 86
ISBN 978-85-8326-053-0
Formato Papel 15 x 21 cm
Editora EDIUPF
Local Passo Fundo / RS
Data da publicação 1998
Número de páginas 82

A trajetória política de Prestes Guimarães Os Cadernos Temáticos de Cultura História constituem-se numa série de textos sobre diferentes temas da histórica, que pretendem servir como materiais didáticos para estudantes de história e áreas afins.

Agregam-se nesta publicação também temas historiográficos resultantes de pesquisas, bem como textos teórico-metodológicos.

Esta proposta faz parte de uma série de projetos em andamento, vinculados ao Centro de Pesquisas Historiográficas do Rio Grande do Sul – CPG/RS – do curso de História da Universidade de Passo Fundo.

Livro escrito por Mariluci Melo Ferreira, publicado em 1998

Apresentação

da Introdução, pela Autora

A história nacional, dominante no século dezenove, atualmente tem de competir com a história regional (...) para conseguir atenção[[1]].

O período de transição do centralismo monárquico para a República federativa, no Brasil deu-se em meio a conflitos partidários em boa parte do território nacional. Em nível de Rio Grande do Sul, esses conflitos foram desencadeados em função do bipartidarismo político – Partido Liberal[2] e Partido Conservador[3] -, duas facções que, embora com base conservadora, tinham posturas ideológicas completamente díspares.

O acirramento entre os dois blocos partidários culminou com a Revolução Federalista de 1893 que, por trinta meses, manchou de sangue o solo rio-grandense em batalhas alimentadas pelo ódio e pelo fanatismo político.

Nos diversos municípios gaúchos, os republicanos e os federalistas agruparam-se em torno de chefes políticos locais. Em Passo Fundo, os seguidores de Júlio de Castilhos organizaram-se sob a liderança do coronel Chicuta, Gervásio Lucas Annes e Lucas José de Araújo; os gasparistas (federalistas) reuniram-se em torno dos chefes Borges Vieira, Veríssimo da Veiga e Antônio Ferreira Prestes Guimarães. Em termos de forças federalistas na região serrana do estado, estas tiveram como seu maior expoente o major Prestes Guimarães, no que concorda a maioria dos autores que escreveram sobre a Revolução Federalista em Passo Fundo.

O trabalho do sistematizar os dados biográficos de uma liderança local, apagada propositadamente pela historiografia gaúcha, exigiu o resgate dos dados elaborados anteriormente acerca do nosso objeto de pesquisa. Entretanto, já foi dito “que a biografia por si mesma já não significa um trabalho histórico de proporções realmente científicas”[4].

Pretendeu-se, então, ir além do resgate dos dados biográficos de um representante do grupo políticos perdedor; o desafio a que nos lançamos no início dos trabalhos de produção historiográfica foi pesquisar as articulações políticas de Prestes Guimarães, enquanto membro de uma família relevante politicamente no município de Passo Fundo desde a sua emancipação; participante ativo do movimento abolicionista local, líder do Partido Liberal e principal chefe das forças oposicionistas do Norte do Rio Grande do Sul na Revolução de 1893.

Tendo presente, que, num curso de especialização, tem-se um momento da produção do conhecimento, que é construído com base em hipóteses previamente estabelecidas e deve representar um salto qualitativo, temos como preocupação romper com a empatia da ótica dos senhores, usando os termos de Walter Benjamin[5].

O estudo acerca da trajetória política de Prestes Guimarães num município que teve a maior parte de sua história escrita por representantes da elite local, no caso, membros do Partido Republicano, foi um trabalho que trouxe muitas dificuldades. Para começar, esse tipo de historiografia, pelas características que lhe são inerentes, vem caindo em desprestígio. A história política, entretanto, apesar das antipatias que conquistou, jamais desaparecerá por completo. “Sob a forma narrativa, biográfica, psicológica, ela continua a representar quantitativamente uma fração importante, possivelmente dominante da produção livresca consagrada ao passado[6].

É fato que as biografias, por longos anos, procuraram consolidar personagens; em outros termos, “eleva-se a personalidade, o mito e o privado como fatores condicionantes da história social e política”[7]. A nossa pretensão é deixar de lado essa tendência positivista linear, buscando, por meio deste trabalho, recolocar na história regional um personagem esquecido pela maioria dos historiadores, não pelas características pessoais, mas por ser representante de uma esfera perdedora na história política local.

Outra dificuldade encontrada na realização deste estudo foi o problema das fontes de pesquisa. Buscamos, antes de mais nada, levantar como foi passada a visão de Prestes Guimarães na historiografia gaúcha, a começar por aqueles que vivenciaram o período de transição da Monarquia para a República e que o conheceram pessoalmente, como foi o caso do historiador Passofundense Francisco Antonino Xavier e Oliveira. Apesar de ser representante da elite local, facção política contrária ao partido de Prestes, é principalmente em seus registros que encontramos a comprovação da importância de Prestes Guimarães na história política de Passo Fundo, especialmente no período de transição da Monarquia para a República. A partir daí, procurou-se remontar a trajetória política de Prestes Guimarães por meio de publicações de sua época, de discursos de sua autoria transcritos nos Annaes da Assembleia Provincial e da produção da imprensa local acerca da vida pública do chefe maragato. Feito isso, constatamos que a bibliografia existente sobre o tema é bastante limitada e que os registros oficiais emanados do governo e conservados em arquivos históricos, apesar de se constituírem numa importante fonte de pesquisa, geralmente expressam o ponto de vista oficial, ou seja, a posição dos vencedores.

Para tanto, dividimos o trabalho em três partes: de início, procuramos situar e discutir o quadro político local da emancipação até a consolidação do modelo republicano; no segundo capítulo, passamos para o tema desta pesquisa, elucidando, primeiramente, de que maneira a historiografia gaúcha tratou da trajetória política deste chefe federalista Passofundense; em seguida, tratamos da Revolução Federalista e da liderança maragata em Passo Fundo, recolocando Prestes Guimarães no cenário da disputa partidária local; por fim, procuramos analisar o retorno do líder gasparista à sua terra natal após o fim da Revolução de 1893.


[1] BURKE, Peter (org.) A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Edusp, 1992. p. 7.

[2] O Partido Liberal evoluiu para o Partido Federalista.

[3] Uma facção importante do Partido Conservador fundou, mais tarde, o Partido Republicano Rio-Grandense.

[4] FLORES, Elio. Juca Tigre e o caudilhismo maragato: poder, tempo e memória. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1995. p. 9.

[5] BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: BENJAMIN, Walter: Magia, técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.

[6] JULLIARD, Jacques A política. In: LE GOFF, Jacques & NORA, Pierre (Orgs.). História: novas abordagens. 3 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988, p. 181.

[7] FLORES, Elio. Op. cit. p. 9.

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Referências

  1. BURKE, Peter (org.) A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Edusp, 1992. p. 7.