Clube Visconde do Rio Branco, dados históricos
Clube Visconde do Rio Branco, dados históricos
Em 07/08/2007, por Maria de Lourdes Isaias
Maria de Lourdes Isaias
Antes de 1910, algumas famílias negras da comunidade já se reuniam, muitas vezes para jogar bocha, esporte marcante da época, outras para debater sobre a futura sociedade. Após uma década, já mais organizadas, as famílias Almeida, Bernardes, Isaias e vizinhos e amigos reuniam-se nas datas festivas religiosas como da Imaculada Nossa Senhora da Conceição, do Divino Espírito Santo e também do Arcanjo São Miguel. Em 1912 se organizou a primeira reunião oficial da futura sociedade, mas foi na segunda que fundou-se a Sociedade José do Patrocínio, nas quais participavam: Candido Bernardo da Cruz, Claro Severo, Bento Isaias, Claro Pereira Gomes, Antão Bernardo da Cruz, Salomé de Almeida, Domingos de Almeida, Eugenio Mello, João Theodoro de Almeida, João Bernardo da Cruz sendo eleito como tesoureiro honorário Claro Pereira Gomes.
Por volta de 1914, chegou à cidade um circo, cujo palhaço, Sebastião Braga, incentivou o prosseguimento da sociedade, por isso por um certo período a sociedade foi conhecida pelo nome de Sociedade Cultural Sebastião Braga, mas em 1916, deliberou-se pela mudança do seu nome para Clube Visconde do Rio Branco, cuja primeira diretoria foi eleita no dia 23 de abril de 1916, data oficial de fundação. Essa sociedade era presidida por uma mulher, fato peculiar para a época, Dona Madalena (Tia Madalena Gorda), uma senhora de posses, que fornecia alimentação para o Presídio Municipal.
Os associados começaram a angariar fundos para a aquisição de um terreno e construção da sede social (Rua Moron nº 2680), que foi inaugurada em 1932 e ampliada em 1947, tendo sido registrado seu primeiro estatuto em 1949, o qual deixava clara a aceitação de diferentes etnias da sociedade (válido até hoje) e enfatizava a sociedade com fins culturais. A sociedade sempre teve participação ativa nas festividades momescas, sendo que remontam ao Bloco Carnavalesco Trinta Três da Pontinha, na década de 1920, que evolui para os blocos e cordões carnavalescos representantes da sociedade nas festividades, sendo que na década de 1950 foi organizada uma escola de samba que deu origem a outras entidades carnavalescas que ainda hoje animam o nosso carnaval local.
É importante salientar que o Clube Visconde não era originalmente uma escola de samba, mas uma sociedade recreativa e cultural, por ser ponto de convergência de pessoas que participavam das festividades populares do carnaval da cidade, deu origem a outras entidades que fizeram e fazem parte destes festejos; na área cultural, citam-se as congadas, ternos de reis, bumba meu boi; manifestações oriundas das tradições e costumes do povo africano que para estas terras veio, destas raízes advêm o Grupo Cultural Afro-brasileiro Zumbi (já que no momento presente, que apresentava encenações de teatro e dança fundadas nestes elementos culturais).
Em memoráveis bailes de debutantes, meninas da sociedade local e da região eram apresentadas à sociedade, contando com madrinhas (mulheres influentes da sociedade local), entre as quais, as sras. Alice Costi e Noeli Albuquerque.
A participação de suas representantes no concurso de Miss Passo Fundo, também se constitui em um marco nas suas atividades, citando-se a participação das srtas. Maria Eli Xavier e Danuza da Silva Escobar, onde a primeira foi eleita Miss Passo Fundo, no final dos anos sessenta. Houve eventos sociais que contaram com a presença de orquestras de sucesso nacional, citando-se a participação do Musical Casablanca, dirigido pelo famoso maestro Sabiá. A visita no início dos anos setenta do Grupo Cultural Afro-Brasileiro da Bahia, o qual participou de um dos carnavais de inverno promovidos pela sociedade, contando com a presença do cantor de expressão nacional, Emílio Santiago.
O Clube Visconde do Rio Branco, participante sempre presente na agenda social da cidade, congregando em suas atividades as diversas classes sociais, na mais perfeita harmonia, sem, no entanto deixar de caracterizar a sua inserção como representante de um dos grupos étnicos que formam nossa comunidade.
Devido a diversos problemas contextuais, teve sua sede quase que totalmente destruída no final da década de 90. Hoje com muito esforço, um grupo de descendentes das antigas famílias que fundaram o Clube, inicialmente capitaneado pelo saudoso prof. Edy Isaias, falecido em agosto de 2001, luta pela defesa e perpetuação das culturas populares.
O Visconde, como uma sociedade que acolhe a todos aqueles que se identificam com os anseios culturais populares, notadamente ligados ao afro-descendentes, é uma prioridade numa sociedade pluralista como a que estamos construindo em nossa terra, idéia que permanece viva nos corações e mentes de todos que estão ligados à cultura e tradição de nossa gente, nestes cento e cinqüenta anos de Passo Fundo.