A reparação de uma injustiça secular

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A reparação de uma injustiça secular

Em 24/03/2012, por Luiz Juarez Nogueira de Azevedo


A reparação de uma injustiça secular - Praça Cabo Neves ou Tamandaré

Luiz Juarez Nogueira de Azevedo[1]


Dá para entender os critérios adotados pelos primeiros governantes republicanos, para a denominação das ruas centrais de Passo Fundo. Se examinarmos o Ato n. 203, de 1913, no qual o intendente (prefeito) Pedro Lopes de Oliveira oficializou os nomes de nossas primitivas vias públicas, batizando-as ou rebatizando-as, verificaremos que se procurou lembrar: 1º) personagens e eventos da história local, como Fagundes dos Reis, Cap. Araújo, Mascarenhas, Diogo de Oliveira e Alferes Rodrigues, bem como as datas de 7 de Agosto e 10 de Abril; 2º) próceres e acontecimentos da Revolução Farroupilha, como o Gen. Neto, o Gen. Bento Gonçalves e a data de 20 de Setembro; 3º) militares passo-fundenses que lutaram na Guerra do Paraguai, como o Cel. Chicuta, o Cap. Eleutério e o Capitão Bernardo; 4º) alguns dos fundadores e efemérides atinentes ao regime republicano, como Saldanha Marinho, Silva Jardim, Benjamin Constant e os marechais Deodoro e Floriano, além da data de 15 de Novembro; 5º) efemérides ou personagens da história pátria, como o próprio Brasil (Avenida Brasil), a Independência, o 7 de Setembro, o citado 15 de Novembro, bem como o Gen. Osório, patrono da cavalaria do Exército Brasileiro.

Foram mantidos, nesse ato prefeitural,  nomes tradicionais, como o da Praça Tamandaré e  de ruas como a Moron, a Paisandú, a Lavapés e a Uruguai.

Mas a maior injustiça é a que se comete com o Cabo Neves, esquecido de maneira absoluta. Parece que, quanto ao verdadeiro fundador de Passo Fundo, que aqui se instalou com sua família e escravos,  a quem foi  concedida pelo Império a  sesmaria  onde veio a  assentar-se  a cidade, — que seria homem simples e despretensioso, —  perduram até hoje os ressentimentos e preconceitos de quase dois séculos atrás. Mesmo tendo sido ele quem  doou a metade de sua fazenda à padroeira da freguesia — Nossa Senhora da Conceição Aparecida, —  possibilitando a formação do núcleo urbano, o traçado das ruas e a concessão  dos terrenos para as construções.   Somente em 1955 seu nome foi dado a uma artéria   da periferia,   certamente não   o local mais adequado para lembrar aquele que foi o primeiro e mais importante personagem de nossa história.

É hora de reparar essa injustiça secular.  Bem que se poderia dar o seu nome inteiro, com o último posto militar que recebeu, ao bonito lugar onde teve sua morada, numa das esquinas da atual  Praça Tamandaré.  O glorioso almirante e marquês de Tamandaré, patrono da Marinha, glorificado  de norte a sul do país, homem justo e generoso que foi,  certamente não se importaria de ceder a praça  para que nela fosse evocado o paulista pioneiro que, exatamente a partir daquele local, onde construiu sua morada, deu os primeiros passos para a formidável empresa que foi   a fundação  da freguesia,  pouco depois vila e finalmente   cidade e sede do município  de Passo Fundo.     O Poder Público, através de nossos  diligentes vereadores, poderia  substituir  o nome de  Tamandaré para atribuir à praça o nome de quem tem mais merecimento e mais a ver com nossa urbe:  o do  Capitão (ou Cabo) Manoel José das Neves.

Referências

  1. Da Academia Passofundense de Letras. Jurista. Procurador do Estado aposentado. Ex-diretor da Faculdade de Direito da UPF.