Uma vida dedicada à Medicina

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Uma vida dedicada à Medicina

Em 2009, por Diego Chimango Vargas


Dr. Rudah Jorge

Uma vida dedicada à Medicina


Considerada Pólo em saúde, Passo Fundo hoje comporta um dos maiores centros médicos do sul do país, contando com quatro hospitais e o segundo maior e mais moderno centro de radiologia e radioterapia do sul brasileiro. O município dispõe de cerca de 750 médicos das mais diversas especialidades, dezenas de laboratórios e clinicas especializadas, que atraem diariamente cerca de cinco mil pessoas vindas de cidades e estados vizinhos em busca de atendimento e qualidade nos serviços da saúde. O patamar que Passo Fundo ocupa na área da saúde é o resultado do empreendedorismo de grandes cidadãos que dedicaram suas vidas em prol da comunidade. Nesta edição, o Jornal Sonar apresenta a trajetória do Dr. Rudah Jorge, um dos mais respeitados profissionais da medicina, incansável batalhador que tornou-se uma figura fundamental no processo de desenvolvimento de Passo Fundo.

Na década de 1940, Sertão era um dos distritos de Passo Fundo; ali funcionava a Estação Experimental de Trigo – idealizada pelo presidente Getúlio Vargas – e a estação ferroviária de Engenheiro Luiz Englert (sub-distrito de Passo Fundo). O Sr. Afoncino Jorge veio de Quaraí com família para trabalhar na ferrovia. O local não dispunha de serviços de saúde, e por não haver nenhum hospital, a assistência aos moradores era oferecida por médicos que residiam em Passo Fundo. Deste modo, quando havia necessidade de cuidados, uma espécie da automóvel sobre rodas de trem conduzia um médico através da linha férrea até o sub-distrito, efetuando o socorro para à população. “Isso simbolizava um grande alívio, pois era o único socorro com que podíamos contar. A imagem da chegada do carro de linha, trazendo o médico com sua pastinha para fornecer auxilio,  foi o meu primeiro contato com a medicina, o qual acredito ter sido o maior impulso profissional”, lembrou emocionado o Dr. Rudah Jorge.

Primogênito dos quatro filhos do casal Olga e Afonsino Jorge, Rudah nasceu em 08/09/1936, em Quarahy Mirim (1º distrito do município de Quarai – RS). A rígida educação recebida do pai lapidou o caráter de um aluno aplicado, que mais tarde se tornaria um respeitável profissional da saúde. No sub-distrito Luiz Englert, freqüentou o curso primário no Grupo Escolar Eulina Braga; em Carazinho, cursou a 5ª série no Grupo Escolar Princesa Isabel; em Passo Fundo, cursou o ginásio no Colégio Nossa Senhora da Conceição, onde também fez o curso cientifico e o curso técnico de contabilidade, tendo como mestre o professor Ernesto Tochetto. “Como os dois cursos eram dados em turnos diferentes, resolvi freqüentar ambos”, acrescentou, evidenciando sua paixão pelos estudos.

Na década de 1950, foi a Porto Alegre estudar medicina na UFRGS. O advogado Celso Fiore (pai de um de seus colegas de faculdade) foi quem conseguiu seu primeiro emprego, como revisor do Diário Oficial do Estado. “Lá eu era encarregado de revisar e corrigir os discursos dos deputados da Assembléia Legislativa, antes de serem publicados. Entre os discursos, os que eu mais gostava eram os do deputado Temperani Pereira, um político genial”, falou o doutor, manifestando também sua precoce inclinação para a política, tendo sido também líder estudantil, participando de diversos congressos. Em 1960, prestou concurso e passou a trabalhar como escrivão da Polícia Civil em Esteio.

Formou-se em Medicina pela UFRGS em 1963, indo ao Rio de Janeiro especializar-se em pediatria no Hospital dos Servidores do Estado. Foi uma dos primeiros médicos a chegar a Passo Fundo com residência médica. De volta em 1966 passou a exercer pediatria no Hospital da Cidade, indo para o HSVP no ano seguinte. Em entrevista, Rudah Jorge traçou um perfil da saúde em Passo Fundo na década de 1960. “Naquele tempo, o HSVP dispunha de noventa leitos, uma sala de cirurgia e não havia energia elétrica. O pediatra – por exemplo – dispunha apenas do estetoscópio, do optoscópio e do medidor de pressão, tendo de desenvolver um diagnostico a partir do contato com o paciente, ou seja era preciso ouvir a mãe relatar o problema de seu filho. A precariedade não permitia um bom atendimento à população. Numa conversa, os doutores Ruy Carlos Donadussi, Carlos Madalosso, Paulo Lamaison Santos e eu concordamos que era necessário que Passo Fundo crescesse no aspecto médico, o que permitiria melhor qualidade de vida à população e, simultaneamente, ocasionaria o desenvolvimento do município”.

Em 1969, foi criada a Faculdade de Medicina da UPF, sediada no HSVP. Na mesma época, o diretor médico pediu demissão, e Rudah Jorge foi convidado a atuar na direção do hospital. No principio, haviam muitos interesses, tanto no hospital quanto na faculdade, ocasionando muitos choques. Numa das mais difíceis fazes de sua vida profissional, o médico teve o grande sustentáculo de Dom João Claudio Colling, 1º bispo da diocese de Passo Fundo. Com uma visão privilegiada, o bispo teve influencia fundamental no processo de crescimento do HSVP. “Dom Claudio entendeu minhas idéias para o crescimento do hospital, e me apoiou constantemente”, comentou o pediatra. A cidade começou a crescer quantitativa e qualitativamente no aspecto médico com a criação da Faculdade de Medicina, da qual Rudah Jorge foi docente por 38 anos, dirigindo paralelamente o HSVP.

Conheci o professor Rudah em 1975 ao ser impedido de entrar no centro cirúrgico porque ainda não cursava o 4º ano da faculdade. ‘Deixa este piá entrar, não vê que ele quer aprender!’, foi a resposta do diretor clínico. Naquele dia, o professor ganhou um fã e eu descobri a minha vocação – a cirurgia.”, relatou o Dr. Osvandré Lech, ortopedista.Dentre outras funções que desempenhou ao longo da carreira médica, Rudah foi médico do Sport Clube Gaúcho e medico legista. Pela sua competência e dinamismo, Rudah foi homenageado por todas as turmas de médicos da Universidade de Passo Fundo, o que comprova o exponencial de uma vida dedicada ao bem comum. Na política, Rudah Jorge foi candidato à deputado estadual e prefeito de Passo Fundo, mas apesar da boa votação não foi eleito. Foi filiado ao PDT, pertencendo ao diretório do partido no município e também secretário, vice-presidência e presidente da Comissão Executiva. De acordo com o médico, o seu insucesso na política se deve ao fato de ele não ter abandonado a atividade médica; “A política e a medicina são ciumentas, uma não aceita a outra”, afirmou, concluindo que na disputa entre as duas grandes inclinações de sua vida, quem realmente venceu foi a população.

Rudah recebeu o título de Cidadão Passo-Fundense em 1997, pelos excelentes serviços prestados ao município e região. Jubilado em 2007 da docência da Faculdade de Medicina da UPF, foi também homenageado por colegas, familiares e colegas de profissão. Hoje, aos 71 anos de idade, é casado com dona Nelly e tem três filhos (Maríndia, Jorge e Juliano),  Rudah continua exercendo grande importância na área da saúde. Para o  vice-diretor do HSVP, Dr. Júlio Stobbe, “Seja como professor, como colega ou como pessoa, Rudah Jorge é um cidadão completo. No epicentro do hospital, ele é o medico que se integra com seus colegas e pacientas, e a convivência com um profissional de sua estirpe propicia todos os dias um aprendizado sobre a medicina e sobre a vida”.

Depois de mais de quarenta anos dedicados à medicina, Rudah Jorge continua em plena atividade como diretor clínico do maior hospital do interior do estado (HSVP). Seu maior legado foi e continua sento o de manter o corpo clínico aberto, possibilitando que profissionais cada vez melhor treinados trouxessem os avanços científicos que, associado à determinação de crescimento da direção, resultasse num hospital com as dimensões que se conhece hoje. O carismático professor Rudah Jorge é um personagem central na história médica atual de Passo Fundo.

Referências