O primeiro Plano Diretor

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O primeiro Plano Diretor

Em 07/08/2007, por Haroldo Loguercio Carvalho


Haroldo Loguercio Carvalho (*)


Na história de uma cidade como Passo Fundo, a existência de três planos diretores de desenvolvimento urbano aparecem como um atestado de que seu crescimento constitui-se numa constante na preocupação dos gestores municipais. Mais importante ainda é destacar que do primeiro plano diretor de 1953 ao atual, em vias de implementação, distam apenas 54 anos. Isso quer dizer que nesse último meio século a cidade se viu impelida a pensar e repensar sobre seu passado e suas perspectivas de futuro.

Elaborado na gestão do prefeito Daniel Dipp, o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) da cidade foi assinado pela equipe do engenheiro e urbanista Edvaldo Pereira Paiva, Demétrio Ribeiro, Francisco Macedo e Edgar Graeff, sendo que os dois primeiros são também os pioneiros nos estudos urbanos no Rio Grande do Sul, responsáveis pela disciplina de evolução urbana da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, existente desde 1947.

Dentre as preocupações centrais do PDDU de 1953, destacavam-se as relativas ao padrão estético da cidade e a seu futuro como pólo comercial e industrial. Recuperaram, seus formuladores, a memória da cidade como entreposto comercial evidenciada na disposição de sua principal via, a Avenida Brasil e seu sentido Leste-Oeste ao longo do qual se consolidaram, desde o século XIX, as principais edificações. Posteriormente, no início do século XX, com a chegada da rede ferroviária, outro importante eixo iria ganhar importância para o futuro da cidade. Assim, o encontro da Av. Brasil com a Sete de Setembro passa a ser o núcleo convergente entre o passado tropeiro e o presente mecânico a atestar a capacidade de atração que Passo Fundo tinha na relação com sua macroregião.

Na década de 1950, o tropeirismo já era uma lembrança do passado, mas a sua velha via de acesso transformava-se para receber aquele que viria a se transformar no estereótipo do progresso: o automóvel. Mas não só esse, o acompanharam os caminhões e ônibus que trouxeram e levaram pessoas e riquezas da cidade que crescia a um ritmo acelerado para os padrões da época.

O aspecto mais marcante do Plano Diretor de 1953 está precisamente condensado na idéia que tiveram seus autores sobre a inevitabilidade do crescimento da cidade. Em todo texto transparece a certeza de que Passo Fundo transformar-se-ia na mais importante cidade do Planalto e, como decorrência, a ação do poder público deveria ser no sentido de criar as condições favoráveis a este destino, levando em conta dois aspectos fundamentais: crescimento e estética.

Na opinião dos formuladores do plano, dentre os fatores principais a distinguirem Passo Fundo como uma cidade de futuro promissor e, portanto, necessitada de planejamento está a importância da sua localização como pólo de atração regional para o comércio externo, especialmente com Porto Alegre. Contrapondo a condição de “entroncamento” com a de “entreposto”, projetaram Passo Fundo para tornar-se o centro regional do Norte do Estado, título que mais tarde seria buscado com a “Capital do Planalto”. O sucesso da triticultura e o otimismo com a futura cultura do soja somados à industria frigorífica e à indústria de implementos agrícolas estava a disponibilidade de mão-de-obra resultante da crescente migração campo-cidade. Portanto, era visível aos olhares da época, que o perfil urbano de Passo Fundo deveria ser organizado de forma a concretizar-se como cidade de atração. Nesse aspecto, não há como negar a acuidade da percepção dos autores do plano. A cidade ficou dividida em apenas cinco zonas distintas.

Em relação à estética da cidade, destacam-se duas observações. A primeira referia-se à precária qualidade das habitações existentes ao longo da Avenida Brasil. Como acesso principal da cidade, esta deveria ser totalmente remodelada, preservando-se, no entanto, a largura, característica gravada na identidade da população. De resto, recomendaram a substituição das casas de madeira com amplas áreas ao entorno por habitações de alvenaria com mais de um pavimento. Ao longo da artéria central, jardins e canteiros deveriam ser construídos para oferecer bem-estar à população. Configurava-se dessa forma o aburguesamento da cidade na medida em que as populações mais pobres que ainda restavam na área central deveriam ser deslocadas para áreas periféricas. A segunda observação referia-se à proposição de construção dos seguintes órgãos: Centro Cívico, que deveria contar com a Prefeitura, Fórum e Biblioteca, Estação Rodoviária, edifícios comerciais e Obelisco. A localização prevista é onde hoje se localiza o parque da Gare. Estádio Municipal com capacidade para 10 mil espectadores localizado nas imediações da parte baixa do atual bairro Vergueiro. Por fim, o Mercado e sua Praça, num projeto realmente modernizador para a cidade. Pela importância histórica que adquiriu, o primeiro PDDU de Passo Fundo foi reimpresso no ano 2000, na gestão do prefeito Júlio Teixeira, que dava início à elaboração do planejamento contemporâneo, o agora chamado Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado.