ADÃO SCHELL e sua casa
ADÃO SCHELL e sua casa
Em 1927, por Francisco Antonino Xavier e Oliveira
ADÃO SCHELL e sua casa[1]
Francisco Antonino Xavier e Oliveira[2]
Adão Schell, nascido a 24.06.1809, na aldeia de Bosen, principado de Birkenfeld, grão-ducado de Oldenburg (Alemanha), veio para o Brasil em 1828, dirigido à colonização de S. Leopoldo, nesta então província de S. Pedro do Rio Grande do Sul. – Depois de ali permanecer por algum tempo e contrair matrimônio, no lugar chamado Bom Jardim, com D. Anna Christina Hein, natural de Hildburghausen no reino de Saxe, transferiu-se para o ponto chamado Três Vendas. Hoje pertence ao município da Cachoeira, onde se estabeleceu com oficina para o fabrico de carretas, empresa que pouco depois deixava para buscar a nascente povoação de Passo Fundo, aí pobre aldeia de toscos ranchos, uns de tábuas simplesmente lascadas e outros de estuque a barro, aqueles cobertos de bicas de pinho, e estes, de capim. Era isto em 1834 ou 1835, e, portanto nas vésperas da grande luta civil que deveria ensanguentar e empobrecer o Rio Grande, só vindo a terminar pela Paz de que foi portador o ilustre soldado e hábil Barão de Caxias.
Aqui chegando, abriu Adão Schell pequena casa de comércio, não podendo porém mantê-la senão por pouco tempo, visto que a guerra aludida, irrompendo e se distendendo, veio criar-lhe a necessidade de emigrar para subtrair-se aos seus graves efeitos. – Assim foi que teve de partir para o Estado Oriental, conduzindo a família e indo instalar-se na cidade de Montevidéu, onde entrou a negociar com gados, que comprava na campanha e ia vender naquela capital. – Parece, no entanto, que o seu olhar permanecia voltado para estar plagas, porque nem sequer chegada a meio da guerra que o afastara, já de regresso aparecia aqui, reabrindo o seu estabelecimento e desta vez para uma longa vida, pois que ininterruptamente o manteve, por muitos anos, sendo que nos últimos tempos desse largo período de atividade comercial, teve como sócio no mesmo a seu genro e antigo empregado, Antônio José da Silva Loureiro.
Era situado esse estabelecimento, bem como a residência do seu proprietário, na atual avenida Brasil, esquina da rua Teixeira Soares, a princípio em construção ligeiro e depois em vasto prédio, levantado por ele, Adão, e que é o mesmo que ainda hoje se vê no local indicado, agora pertencente à sucessão do major Cândido Marques da Rocha. – Estrangeiro e conservando a sua nacionalidade, por esta circunstância, não podia Adão Schell tomar parte na política e posições oficiais do país, tinha de circunscrever-se à esfera limitada que daí lhe decorria, consagrando-se ao labor e à família, o que fez de modo muito digno, porque sendo um homem lúcido, de caráter distinto, e que primava por elevada compostura, tais predicados o colocaram em posição de verdadeira respeitabilidade, tornando-o elemento de primeira ordem na vida local.
Já no fim da existência, quando a velhice lhe dava o direito de descansar, à sombra da independência que conquistara em longos anos de trabalho perseverante, voltou Adão Schell suas vistas para uma grande obra, concedendo-lhe o amparo de sua valia moral e a erguendo no meio em que se radicara desde a mocidade.
Foi essa obra a criação da loja maçônica Concórdia III, hoje brilhantemente continuada pela sua irmã Concórdia do Sul, cujo belo templo se ergue à Av. Brasil, nesta cidade.
Daquela gloriosa oficina que em seu quadro reuniu elementos distintíssimos deste município e de fora, foi ele o primeiro Venerável, tendo como sucessor nesse honroso posto, o ilustre magistrado James de Oliveira Franco e Souza, então juiz de direito da comarca, depois desembargador e presidente do Superior Tribunal do Estado, e grão mestre da Maçonaria rio-grandense. Deve-lhe, pois, a excelsa causa maçônica esse inestimável serviço, que saberá guardar indefinidamente em sua tradição generosa e imortal.
Eis os principais traços da vida do austero varão que, unindo seu destino ao de uma senhora distintíssima, como era D. Anna Christina Hein, com ela teve a felicidade e a glória de constituir a gênese de uma das mais vastas e respeitáveis descendências que existem neste município, do seio da qual, não só neste regime, como no antigo, tantos vultos de destaque surgiram na política, no comércio e na sociedade passo-fundense.
A presente investigação biográfica, pois, não reflete senão a necessidade de uma homenagem do dia de hoje ao mérito da individualidade cuja passagem terrena assim fica esboçada a largos traços, como subsídio a mais amplo trabalho.
Passo Fundo 1927 - Escrito do livro “Terra dos Pinheirais” de Francisco Antonino Xavier e Oliveira
Referências
- ↑ Devemos ao Sr. Guilherme Morsch uma grande parte das informações em que se apoia este trabalho.
- ↑ Francisco Antonino Xavier e Oliveira - nasceu em 05 de setembro de 1876, na Fazenda Três Capões, então município de Passo Fundo, hoje município de Marau. Iniciou seus primeiros estudos (letras), em Passo Fundo, na fazenda da família. Foi membro das Associações Científicas, foi jornalista, redator de diversos periódicos, além de ter exercido diversos cargos públicos. Publicou várias obras, reeditadas pela UPF em 1990, como “ Annaes do Município de Passo Fundo Volume I Aspectos Geográficos, Volume II Aspectos Históricos e Volume III Aspectos Culturais”, havendo ainda várias obras inéditas.