Passo Fundo, dados históricos
Passo Fundo, dados históricos
Em 10/12/2006, por Mariluci Melo Ferreira
Passo Fundo, dados históricos[1]
Mariluci Melo Ferreira[2]
O Rio Grande do Sul conta atualmente com 496 municípios, e Passo Fundo está entre as 10 cidades gaúchas mais populosas. Mas a história nos mostra que nem sempre foi assim. Nos primeiros anos do século XIX (1810) o atual Rio Grande do Sul chamava-se Capitania do Rio Grande de São Pedro. Este vasto território estava dividido em apenas quatro municípios: Porto Alegre, Rio Pardo, Rio Grande e Santo Antônio da Patrulha.
A área que hoje integra Passo Fundo pertencia ao município de Rio Pardo era povoada por indígenas tupi-guarani e jês, além dos caingangues (apelidados pelos colonizadores de COROADOS), que viviam da horticultura de subsistência (milho, erva-mate, feijão, mandioca e batata). Esta região fazia parte da rota dos tropeiros. O tropeirismo era uma atividade que se desenvolvia nos campos sulinos desde final do século XVII em termos de fornecimento do gado para o abate e para o transporte na região mineira (principalmente o gado muar). Os tropeiros reuniam o gado solto em invernadas e o destino era as feiras de Sorocaba, em São Paulo. De lá o gado era vendido para outros tropeiros que os conduziam para as regiões das minas.
Na beira do caminho dos tropeiros surgiram primeiras casas e armazéns. O primeiro morador branco de Passo Fundo foi o militar Manoel José das Neves, conhecido como Cabo Neves (cabo de milícia). Em 1827, Cabo Neves ganhou do governo imperial, terras para formar uma estância e morar com sua família, protegendo assim o território. De acordo com alguns historiadores, a casa deste primeiro povoador branco ficava próxima a atual praça Tamandaré. A fundação das primeiras fazendas possibilitou o surgimento de povoados. Próximo da casa do fazendeiro, os agregados e escravos construíam seus ranchos de acordo com suas possibilidades.
Outros aventureiros que se agradaram da localização, da paisagem e do solo fértil desta região, foram construindo suas casas e se estabelecendo com sua família. Estes pioneiros dedicavam-se à profissão de fazendeiro, tropeiro, agricultor, advogado, comerciante ou militar. Muitas vezes era a mesma pessoa que ocupava várias funções. Um fazendeiro também era militar, comerciante e tropeiro.
Depois chegaram as famílias dos imigrantes alemães, os italianos, os judeus, etc.No ano de 1834, Passo Fundo passou a constituir o 4º distrito de Cruz Alta. Nos anos da Revolução Farroupilha, Passo Fundo apresentou uma diminuição populacional. Apenas com o fim da Guerra Civil é que novas famílias se estabeleceram na região. Em janeiro de 1857, a Assembléia Provincial, através do ato nº 340 instituiu o município de Passo Fundo. A instalação do novo município e posse dos vereadores aconteceu no dia 7 de agosto do mesmo ano.
Até o ano de 1889, o voto no Brasil era censitário, ou seja, só os homens brancos, ricos, maiores de 25 anos e que soubessem ler e escrever podiam votar e ser eleitos. Também era necessário estar residindo pelo menos há dois anos no local de votação. Mulheres, negros, padres e militares não tinham o direito de votar. Não havia a Justiça Eleitoral, muito menos o título de eleitor. Passo Fundo como ainda era uma vila em 1857 contava com apenas 7 vereadores e um juiz de paz. O mandato de ambos era de quatro anos.
Na maior parte do século XIX existiram dois partidos políticos: o Liberal e o Conservador. Entretanto, o que predominava era a fidelidade a uma pessoa e não a um partido ou programa político. Os eleitores identificavam-se mais com o mandatário local do que com a sigla partidária. Os partidos na época, não passavam de fachada. A maior preocupação dos eleitores e dos líderes políticos era: quem ocuparia os cargos públicos. As funções públicas de vereador, deputados, chefes de polícia, delegados e subdelegados não eram remuneradas, assim mesmo eram muito cobiçadas porque significavam status ao seu detentor.
Durante a Monarquia, a maior autoridade política no âmbito municipal era o presidente da Câmara de Vereadores que respondia como chefe do Executivo local, equivalente à atual função do prefeito. Em Passo Fundo Manoel José d’Araújo foi o primeiro presidente da Câmara. Além deste também foram eleitos: Joaquim Fagundes dos Reis, Cezario Antonio Lopes, Manoel da Cruz Xavier, Antonio Mascarenhas Camello Junior.
Na fase da República, foi criado o cargo de intendente municipal que passou a ser remunerado. O primeiro intendente (correspondente ao atual prefeito Municipal) de Passo Fundo foi Frederico Guilherme Kurtz.
Em 1891 Passo Fundo foi elevada à categoria de cidade, quando contava com 16.000 habitantes distribuídos em 80.000 km2. Na a principal atividade na época era o comércio de erva-mate, fumo, couros e crinas, “secos e molhados” (alimentos, tecidos e utensílios). A agricultura também recebia destaque.
Ainda na década de 1890 foi construída a ferrovia que ligava Passo Fundo a Porto Alegre via Santa Maria. Nas proximidades da estrada de ferro que cruzava a nossa cidade foram construídos armazéns, hotéis, restaurantes, cafés e muitas lojas. O número de habitantes cresceu, a quantidade de vilas e bairros também aumentou e a infra-estrutura da cidade foi melhorada para atender as necessidades dos passo-fundenses. Para se ter uma idéia, antigamente, o cemitério ficava no quarteirão em frente ao antigo quartel do Exército. Era na periferia da cidade. Com o crescimento urbano foi transferido para a Vila Vera Cruz.
A parte mais antiga da nossa cidade é o “Boqueirão”. Os mais ricos moravam em sobrados (casas de dois andares) ao redor da praça Marechal Floriano. Com o tempo chegaram muitas outras famílias, então novas ruas foram abertas, a rede de água e esgotos e o sistema de iluminação pública foi melhorada, construíram-se novas praças, escolas, hospitais, casas de comércio e indústrias. No século XX desenvolveu-se a indústria madeireira, ervateira e torrefação de café. Também aumentou a produção de trigo e soja.
Em 1957 comemorou-se o centenário de Passo Fundo. Nossa cidade sediou a VII Festa Nacional do Trigo, que anteriormente realizava-se em Cruz Alta. Na ocasião o então prefeito municipal, Wolmar Salton, determinou o plantio de trigo nos canteiros da Avenida Brasil, que antigamente se chamava Avenida das Tropas, depois, Rua do Comércio.
Passo Fundo é hoje a referência de uma região que atrai anualmente milhares de pessoas em busca de recursos nas áreas de saúde, educação, prestação de serviços, emprego e moradia. É a maior cidade no Norte do Rio Grande do Sul, importante pólo rodoviário, por onde cruzam as principais estradas de ligação norte-sul (Br-153) e leste-oeste (BR-285), ligando-se á Porto Alegre pela BR-386 e RS-324. Possui também um aeroporto que recebe aeronaves de pequeno e médio porte, com vôos que ligam a região à Porto Alegre e São Paulo.
De acordo com o último levantamento (2004), Passo Fundo tem 182.233 habitantes, espalhados na zona urbana (163.764) e nos seus cinco distritos (4.694). Diversos eventos artísticos, culturais e científicos são realizados em nosso município. Jornada Nacional de Literatura, Feira do Livro, Festival Internacional do Folclore, Mostra da Cultura Gaúcha, Rodeio Internacional, EFRICA, e tantos outros que conferem a importância da cidade que também é conhecida como Capital do.Planalto Médio Gaúcho
Numa homenagem ao cantor regionalista Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, que tanto divulgou o nome de Passo Fundo, em 2002, a Câmara Municipal de Vereadores aprovou a Lei instituindo o “Gaúcho de Passo Fundo”, de autoria deste cantor como a música-símbolo de nossa cidade.
Referências
- ↑ Texto elaborado com o objetivo de instrumentalizar as professoras das escolas municipais de Passo Fundo. - Fonte: Site do Município de Passo Fundo em 10/12/2006
- ↑ Mariluci Melo Ferreira é Mestre em História. Coordenadora do Ensino de História da Rede Municipal de Passo Fundo (SME-Coordenadoria de Educação)