Autobiografia de Antônio Quim Cesar

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Autobiografia de Antônio Quim Cesar

Em 30/08/2008, por Heleno Alberto Damian

Autobiografia de Antônio Quim Cesar


Outro documento que de certa forma serve de contraponto ao do comandante legalista foi escrito pelo chefe revolucionário Antônio Quim Cesar. Trata-se da sua Autobiografia escrita especialmente para o Instituto Histórico de Passo Fundo e publicada parcialmente no jornal O Nacional em 1959.[1]

"Nesta narração vou referir, apenas, os principais episódios da minha vida, confiando somente na minha reminiscência, sem precisar datas, por terem-se extraviado documentos e diários, onde as vinha anotando, com as quais seria mais completa esta memória. Já é decorrido mais de meio século, de certos fatos que narramos, confiado em minha memória, procurando descrevê-los com fidelidade, sem exageros, com o único propósito de registrá-los para que os filhos e descendentes possam, no futuro, defender meu nome de qualquer maledicência, feita por mal informados ou desafetos. Meu nome, citado até em alguns livros referentes à minha atuaçãopolítica e revolucionária, por certo, merecerá elogios e críticas. Mas, se verdadeiras estas críticas, nenhuma ferirá a minha dignidade e honra, porque minha consciência não me acusa de ter, alguma vez, praticado qualquer ato menos digno. Nos altos e baixos da minha acidentada vida, onde, por vezes, ocupei cargos de relevo e grandes responsabilidades, teria oportunidade, se fosse menos escrupuloso nas minhas ações, poder estar agora, no último quartel da vida, gozando de situação privilegiada, tanto financeira como política, o que não acontece. A única recompensa que tive nos 40 anos de serviços prestados ao meu Estado e à minha Pátria, foi ter podido conservar um nome respeitado, até pelos adversários, tanto no setor político como revolucionário, e na minha vida particular. Se outra coisa não poder deixar aos meus filhos e descendentes, deixarei um nome que não os envergonhará no futuro, se os historiadores ainda dele se lembrarem. Começarei descrevendo a minha vida, desde a adolescência até agora (1959), quando já conto mais de 70 anos de idade. Orgulho-me, porém, de deixar esse exemplo aos meus filhos e netos, para suas orientações na vida. Com seis anos de idade, fiquei órfão de mãe. Filho de João Cesar, paulista, descendente de tradicional família, e de Joana da Rocha Cesar, filha do Major Manoel Theodoro da Rocha, descendente de respeitável família paranaense. (II) Nasci em 23 de junho de 1887, na cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Com a revolução de 1923 (1893), emigrei do Rio Grande do Sul com o meu pai, para o Estado de São Paulo, onde fui confiado aos meus avós paternos, para receber a instrução que meu pai desejava dar-me. Estudei, quando menino, em São Paulo (Capital), vindo depois em companhia dos meus avós para Itapetininga, onde freqüentei a escola modelo daquela cidade. Ali, recebi, além da instrução primária, o exemplo de austeridade, dignidade e honra, dos meus avós, para neles pautar a minha vida desde a adolescência. Com a idade de 12 anos, abandonei a escola complementar que já cursava, para auxiliar a meu pai, que, com os prejuízos sofridos com a revolução de 1923 (1893), no Rio Grande do Sul, já não dispunha de recursos para manter-me estudando. Com ele, que era tropeiro de mulas, iniciei a minha carreira comercial, começando a tropear do Rio Grande a São Paulo, aprendendo aquela vida. Iniciei essa vida como madrinheiro, peão e capataz, para já aos 15 anos, tomar conta dos negócios do meu pai, comprando, transportando e vendendo essas tropas em Sorocaba e Itapetininga, no Estado de São Paulo. Naquela época, em 1902, nossas tropas eram compradas na região serrana do Rio Grande do Sul, em Passo Fundo, Palmeira, Cruz Alta e Soledade, e transportadas por terra até Itapetininga, em São Paulo, demorando nesse trajeto, de quarenta e cinco a cinqüenta dias de viagem. Com 23 anos, casei-me em Campo do Meio, Município de Passo Fundo, com Maria Fagundes Cesar, filha de um federalista, que militava na oposição desde antes de 1893. Continuei ainda tropeando mais um ano, para depois iniciar-me na política. Nas minhas viagens para São Paulo, na culatra das tropas, por intermináveis dias de solidão, enfrentando a intempérie, comecei a formar a minha consciência política. Analisando a situação política do Rio Grande e do Brasil, me inclinei a filiar-me, politicamente, na oposição, para combater a corrupção, autoritarismo e violência, que então imperavam no Rio Grande do Sul, sob a chefia de Borges de Medeiros. Em 1923, com a aproximação da revolução e posteriormente com a aliança dos federalistas aos oposicionistas de Assis Brasil, me filiei a estes, para com a campanha da oposição, militando politicamente desde 1920, em suas fileiras. Exerci, em começo da minha vida política, como oposicionista, em Campo do Meio, a função de subintendente, quando assumi naquele distrito a liderança política da oposição. Quando Assis Brasil lançou-se na campanha política contra Borges de Medeiros, já sabia, através de palestras reservadas com Assis Brasil, Cel. Felipe Portinho, Dr. Raul Pilla, Dr. Arthur Caetano da Silva, General Menna Barreto e Belo Fagundes, que só conseguiríamos a vitória da nossa causa, por uma revolução. Conseguimos eleger como nossos representantes na Assembléia do Estado o Dr. Alves Valença, e na Câmara Federal o Dr. Antunes Maciel. (III) A oposição lançou como candidato contra Borges de Medeiros o nome do Dr. Assis Brasil, com grande prestígio político no Estado e no País, desde o Império. Sabíamos que só a revolução nos daria a vitória, visto o regime de fraudes e corrupções usados pelos situacionistas que votavam, cada eleitor, até vinte vezes na mesma mesa, com títulos de mortos e ausentes. Era então Presidente da República o Dr. Arthur Bernandes, amigo íntimo de Assis Brasil e Antunes Maciel. Quando da apuração dessa eleição, obtivemos a vitória por mais de uma dezena de mil votos. Foi uma comissão da Assembléia do Estado à presença do Dr. Borges de Medeiros para comunicar a sua derrota. Antes, porém, que a comissão falasse, Borges de Medeiros, antecipou-se, agradeceu à comissão pela comunicação da sua ‘vitória’, o que obrigou a junta apuradora a fazer uma grande ‘depuração’, falsificando atas, etc., a darem a vitória a Borges de Medeiros. Com essa fraude, começou a oposição a articular a revolução em inúmeras reuniões que tivemos em Alegrete, São Gabriel e Porto Alegre, começaram os oposicionistas a se preparar, adquirindo armas, munições e recursos para deflagrarem a revolução, por ocasião da posse de Borges de Medeiros, em 1923. Era então governador de São Paulo o Coronel Fernando Prestes de Albuquerque, de quem fui amigo pessoal, como também fui do seu filho Julio Prestes, aos quais era ligado por laços de famílias. Por meu intermédio, aproximaram-se do Coronel Fernando Prestes, em São Paulo, os denodados correligionários Braz de Revoredo, Galeno de Revoredo e Valencio Xavier, que conseguiram do governo de São Paulo a indiferença às nossas atividades naquele Estado, para a aquisição de armas e munições de que a revolução pudesse precisar, se falhassem as promessas do governo federal, de impedir, pela intervenção, a continuação de Borges de Medeiros no Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Ainda em 1922, na residência de Fermino Torely, em Porto Alegre, onde se reuniam os futuros revolucionários, presentes Honorio Lemos, representando a fronteira (cognominado, mais tarde, ‘Leão do Caverá’); Zeca Neto e Dario Crespo, representando a zona central do Estado; Leonel Rocha, Arthur Caetano, Felipe Portinho, Salustiano de Pádua e eu, representando a região serrana – ficou assentado que a data da revolução seria a da posse de Borges de Medeiros no Governo do Estado. Confiantes nas promessas do Governo Federal, logo após três meses de luta, intervir no Estado, lançando-nos à aventura, mesmo desprovidos de recursos, sem armas, sem munições, mas com fé inabalável na vitória. No dia ali aprazado, ficou combinado que Leonel Rocha se levantaria na Palmeira, Arthur Caetano e Quim Cesar em Passo Fundo, Erechim e Lagoa Vermelha, onde já contavam com a solidariedade do destacado e ardoroso correligionário  Cel. Mesquita; em São Francisco e Caxias com a não menos valorosa solidariedade do Coronel Belizario Batista; na fronteira se levantariam no mesmo dia, Honorio Lemos e em Pelotas e imediações o General Zeca Neto. (IV) Nesse dia, cumprindo compromisso assumido, levantaram-se em armas, ao norte da cidade de Passo Fundo, Quim Cesar, que, auxiliado pelos bravos e destemidos caudilhos, Cel. Ramão Fagundes, João Fagundes, Jango do Padre, Pedro Periquito, Francisco Fermiano de Oliveira, Camilo Suelo, Ignácio Ribeiro, Pedro Paulo e outros, partiram de Campo do Meio, à frente de mil e poucos homens, quase sem armas, para reunir-se ao Cel. Fernando Goelzer, na Estação de Coxilha. No terceiro dia de marcha, já com a cidade de Passo Fundo à vista, dei um balanço no armamento e munição que possuíamos, quando verifiquei que só dispúnhamos de 16 armas de guerra, entre fuzis mauser, comblein, manulincher remanescentes da revolução de 1893, e umas 100 espingardas de caça, revólveres e pistolas, além dos afamados facões gaúchos, que grande parte da coluna possuía. Esperávamos, no terceiro dia de movimento, sitiar a cidade de Passo Fundo. Pelo Norte, operaria a minha tropa, enquato pelo Sul a cidade seria cercada pelas forças de Arthur Caetano, Coronel Salustiano de Pádua e Gen. Menna Barreto que, depois de tomado Carazinho, marchariam sobre Passo Fundo, onde, no terceiro dia de luta, deveria ser assaltada e tomada. No dia combinado, ataquei Passo Fundo, avançando até a chácara do Cel. Gervasio, a um quilômetro da cidade, onde iniciamos um ataque estratégico, com a finalidade de obrigar o inimigo a gastar munições e, ao mesmo tempo, obrigá-lo a permanecer em constante vigilância, para cansá-lo e abater-lhe o moral. Ali permanecemos dois dias, em permanente contato com o inimigo, esperando a aproximação de Menna Barreto, Caetano e Salustiano de Pádua, que atacariam pelo Pinheiro Torto. Como os mesmos não viessem, e sim quatro trens com forte contingente da Brigada Militar, comandados pelo General Firmino de Paula, iniciamos, à tardinha, logo após a chegada dos mesmos, um tiroteio. Logo que escureceu, fui informado de que chegariam mais forças da Brigada Militar do Estado, durante à noite, cujas forças já haviam feito debandar as forças de Menna Barreto, Caetano e Salustiano, que se retiraram rumo a Nonoai. Convoquei os meus leais e destemidos companheiros, junto a um cemitério que se avista, digo que fica na coxilha de onde se avistava Passo Fundo, nas proximidades da fazenda Anibal Lemos, e aí expus aos companheiros a nossa insustentável posição, por falta de armas e munições, para enfrentarmos forças regulares e aguerridas da Brigada Militar, fortemente armadas, que já tínhamos à vista, acampadas na cidade de Passo Fundo. Depois de expor tal situação, propus aos denodados companheiros que cada um dos responsáveis pelos grupos de seus comandos, os levasse de volta para suas casas, e ali fizessem uma simulada dissolução da força, enquanto eu me comprometia, sob a palavra de idealista, que iria ao encontro do Gen. Felipe Portinho, que se achava em São Paulo adquirindo armas e munições, e dentro de 30 dias, no máximo, eu estaria no Rio Grande, com armas e munições, para continuarmos combatendo aquela ditadura disfarçada de Borges de Medeiros. Recebi apoio incondicional de meus valorosos companheiro, e nessa mesma noite nos retiramos para o 2º Dsitrito (Campo do Meio) e 3º Distrito (Coxilha). (V) Na manhã seguinte, depois de despedir o último grupo de companheiros para suas casas, eu, acompanhado do Cap. Juvêncio Prudente e um sobrinho, iniciei uma cruzada que julgo ter sido a aventura mais arrojada da minha vida, por ter que atravessar, a cavalo, os municípios de Erechim, Lagoa Vermelha e Vacaria, para atingir a cidade de Lajes, onde esperava encontrar o Gen. Felipe Portinho – municípios estes que, alertados pelo deflagrar do movimento revolucionário, já estariam de sobreaviso e vigilantes. Na tarde daquele dia que iniciei a referida cruzada, quando atravessava o Passo do Carreteiro, nos fundos do campo de Dona Nharica Rocha (ardorosa correligionária nossa), fui surpreendido por uma emboscada feita pelo Coronel Marcos Bandeira, à frente de 50 homens que, ocultos e entrincheirados nas barrancas do referido Arroio Carreteiro, observou que eu vinha distanciado, uns 50 metros de meus dois companheiros, e entrasse no arroio para, me chamando pelo nome, intimar-me para que eu me entregasse. O instinto de conservação me deu ânimo e, jogando uma arrojada cartada, saquei de um revólver colt ‘Parabelum’, calibre 45, que trazia na cabeceira do arreio, desfechei três tiros, enquanto que, dando de rédea ao cavalo que montava, disparei para trás, já à distância, faziam o mesmo os meus dois companheiros que, em melhores montarias, já se distanciavam. Só, sem recurso, continuei correndo e tiroteando, até ganhar uma distância de 300 a 400 metros do Arroio, quando parei em uma curva da estrada, protegido por um pequeno capão de mato, para carregar os meus dois revólveres, que já haviam descarregado – quando avistei pelas frestas do capão de mato dos brigadianos de Marcos Bandeira, que vinham em minha perseguição. Apeei do cavalo, entrincheirando-me sobre um pinheiro, e esperei que os mesmos se aproximassem até uns 30 metros, e comecei a atirar contra os mesmos, que, surpreendidos com os tiros, voltaram correndo – e para justificar a corrida (o que sempre acontece nesses momentos) disseram a Marcos Bandeira que havia inimigo fortemente entrincheirado, a um quilômetro de distância. Marcos Bandeira, apesar de valente caudilho, achou prudente voltar dali, o que fez, levando a Passo Fundo a notícia de que os revolucionários ainda se achavam reunidos entre o 3º Distrito e Campo do Meio, o que motivou a demora dos movimentos do General Firmino de Paula, para aguardar maior reforço de Porto Alegre. Naquela mesma noite, prossegui, pelo Campo do Meio, a retirada, mas já sozinho, em direção a Lagoa Vermelha e Vacaria, onde cheguei na fazenda do valoroso companheiro Cel. Liborio Rodrigues, depois de diversos perigos e peripécias por que passei, muitas vezes ocultando-me até de companheiros, supondo-os inimigos, para não me deixar aprisionar, quando tinha uma missão tão importante a cumprir. Gastei quatro dias e quatro noites viajando, dormindo pouco nos capões de mato, fugindo dos lugares mais povoados. (VI) Atravessei, no fundo da fazenda Estrela, do Cel. Liborio, na divisa de Santa Catarina, e fui a Lages, onde tive a notícia de que o Gen. Portinho chegaria à estação do Herval, em Santa Catarina, trazendo armamento e munição, comprados em São Paulo. Fui, em seguida, para Herval, onde me encontrei com o Gen. Portinho, depois de esperar três dias. Ali já encontrei uns vinte companheiros, que vieram de Passo Fundo, ao meu encontro, passando as mesmas peripécias que eu. Com outros companheiros que lá se incorporaram a nós, formamos um grupo de 48 homens. Entre esses, estava o Cel. Fidencio Mello, Dudu Cesar, Fernando Goelzer, Adão Issler, além do Cel. Januário, Cap. Lança Cordeiro e Fernando Caldas, secretário do Gen. Portinho – que o acompanharam desde São Paulo, para tomar parte na revolução. Éramos, como disse, 48 homens, quando saímos do Herval, levando 25 cargueiros, carregados de armas e munições. Eram winchesters calibre 38 e 44, compradas em São Paulo. Naquela estação estava sediado um contingente da Força Pública Catarinense que, além de nos proteger, muito nos auxiliou com animais para a nossa marcha, que viria abalar, dentro em pouco, o poderio da ditadura gaúcha. Além dos já citados, acompanharam-nos também os companheiros João Fagundes, Dorival Fontoura Cruz, Adão Issler e João Cony. Dois dias levamos de viagem até um passo do Rio Pelotas, divisa de Santa Catarina com orio Grande. Chegamos até ali, sem sermos percebidos pelos contingentes da Brigada Militar do Rio Grande, que guarnecia o Pinhal do Machadinho. Compunha-se essa força de mais ou menos 100 homens, comandados por um Tenente e um Coronel Provisório. Atravessamos o Rio Pelotas e, durante a noite, marchamos sobre Pinhal do Machadinho, que atacamos às 5 horas da manhã, surpreendendo os brigadianos dormindo, dos quais tomamos todo o armamento, 80 fuzis e bastante munição, inclusive até o fardamento de uso dos soldados e do oficial, cuja espada, com suas iniciais, guardo como lembrança. O inimigo, desbaratado, fugiu pelos matos, em direção a Marcelino Ramos e estação de Viadutos, onde, para justificar a sua derrota, pelo telégrafo da Estrada de Ferro, espalhou a notícia de que os revolucionários haviam invadido o Rio Grande com uma forte coluna, bem armada e municiada. Com tal alarme, fugiram todos os pequenos destacamentos da Brigada, que permaneciam nas estações, entre Marcelino Ramos e Boa Vista do Erechim, ficando completamente desguarnecida a Estrada de Ferro até a Estação de Sertão, facilitando-nos, assim, a tomada de todas as localidades, até Marcelino Ramos. Ficou, portanto, em poder dos revolucionários todo o setor, desde os campos de Passo Fundo até as barrancas do Uruguai ou Pelotas. Nos campos de Passo Fundo, estabelecemos os acampamentos de vanguarda, com a missão de vigilância, sobre as forças de Firmino de Paula, que estacionavam em Passo Fundo. (VII) Tormou-se, por isso, fácil ao comandante em chefe da coluna Gen. Felipe Portinho, a reunião de todos os revolucionários de Passo Fundo, Carazinho, Nonoai e Lagoa Vermelha. Estabelecemos então quartel general das forças revolucionárias na fazenda do Cel. Emiliano Paula do Nascimento, um valoroso cabo de guerra, que muito auxiliou na incorporação dos voluntários da Coluna Norte, como ficou denominada a nossa força. Em oito dias, tínhamos incorporado aproximadamente mil homens, que em memorável reunião, naquela fazenda, já mais ou menos formados militarmente, proclamaram o então Coronel Felipe Portinho como General, Comandante em Chefe da Coluna Norte. Formaram-se quatro batalhões com os seguintes comandos: primeiro: ‘Coluna Quim Cesar’, que foi também proclamado Coronel pelos revolucionários, nessa reunião, tendo como subcomandante o Ten. Cel. João Fagundes de Souza; segundo: ‘Coluna Emiliano Paula do Nascimento’, que ficou comandado por este, tendo como subcomandante o Ten. Cel. Amaro José do Prado, um velho de mais de 70 anos e veterano da revolução de 1893; terceiro: ‘Coluna comandada pelo Cel. Salustiano de Paula’, assessorada pelo Dr. Arthur Caetano da Silva, um dos grandes paladinos da revolução de 1923, tendo como subcomandante o Major Belizario Saldanha; quarto: ‘Coluna Cel. Jango Padre’ comandada pelo mesmo, que também era veterano de 1893, tendo como subcomandante o Ten. Cel. João Cony. Foi pelo General Comandante incumbido de guarnecer a entrada do Sertão, o Cel. Jango Padre, que designou o seu subcomandante, Ten. Cel. João Cony, que ocupou com seus destacamentos as estradas da Estação Sertão e Estação Coxilha. Marchamos com o grosso da coluna em direção a Boa Vista do Erechim, já tomada pelas forças revolucionárias, depois de ligeiras escaramuças, com um pequeno destacamento da Brigada Militar, que guarnecia a cadeia daquela cidade, aos quais aprisionamos, tomando-lhes os fuzis e munição. Depois de estabelecido o quartel general nas proximidades de Erechim, o Gen. Felipe Portinho organizou a administração municipal, designando para Prefeito o correligionário Temistocles Uchôa. Como fosse muito acanhado o espaço para acampar uma coluna já tão numerosa, resolveu o general continuar acampado nos campos de Quatro Irmãos, ali conservando os mesmos serviços de segurança. Descansamos aproximadamente um mês.”

Do livro:  Do livro: Páginas da Belle Époque Passo-fundense

Referências

  1. (ON nº 9.219, de 30-06; nº 9.221, de 02-07; nº 9.222, de 03-07; nº 9.223, de 04-07; nº 9.226, de 08-07; nº 9.237, de 21-07; e nº 9.244, de 29-07-59.)