Aldo Battisti e a Confraria do Bar Oasis

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Aldo Battisti e a Confraria do Bar Oasis

Em 13/08/2012, por Luiz Juarez Nogueira de Azevedo[1]


ALDO BATTISTI E A CONFRARIA DO BAR OASIS


72 anos. Meu contemporâneo e amigo fidelíssimo. De profissão lojista, exatamente como com orgulho se intitula.  Em verdade, deu continuidade a tradicional comércio de calçados, hoje um grande magazine de confecções e moda, iniciado por seu pai João Battisti em 1941.  João Battisti era um sapateiro italiano que veio se radicar em Passo Fundo, onde constituiu família, casando-se com D. Giovana Bettinelli (Nina), da qual teve três filhas e mais o Aldo.   Em sua empresa familiar, Aldo trabalhou desde os verdes anos. Já adulto,  prosseguiu e incrementou o negócio da família, auxiliado  por  sua esposa e agora pelos filhos, nos quais  incutiu uma rígida ética de honestidade, eficiência e disciplina. Fisicamente, hoje é de estatura média.    Antes era mais alto que eu e deve ter tido sua altura reduzida por causa da idade. Branco, por sua  ascendência italiana pelos quatro costados.  Antigamente era gordo e usava vastos bigodes, removidos  há alguns anos, juntamente com uma parte considerável do seu peso.  Gosta de chapeus — algumas vezes engraçados —  e veste moda esportiva sempre atualizada e de bom gosto. (Diz que, por ser empresário da moda e ser  jovem a clientela de  sua loja, que tem que se vestir como jovem). Muito simpático e bom conversador, costuma contar detalhadamente todas as histórias, as dos outros e as suas,  inclusive as que dizem respeito à sua saúde, de que cuida escrupulosamente, submetendo-se todos os anos aos mais diversos tipos de exame.  Bem humorado, boa companhia, extremamente leal e afetuoso, principalmente com sua família e seus amigos. Não é homem de ódios ou rancores.  Mas, como bom italiano, sabe reagir a qualquer desfeita.  Muito meticuloso e detalhista, sua vida é um primor de organização.  Tudo por ele é organizado: seu negócio, seus   arquivos, seus  pagamentos, as datas, as recordações, as memórias, os documentos e fotografias e o mais que se imaginar. Tem o que chama de  “acervo”, uma espécie de museu muito bem organizado, com recordações de sua vida e objetos de toda espécie que lhe vieram parar às mãos. Por isso, sempre digo que sua principal vocação  deveria ser a de  museólogo, em vez da   de  comerciante.    É dado a   organizar festas, encontros e jantares, sempre sabendo encontrar e recomendar  locais e tendo sempre à mão a lista de convidados, conforme os diferentes grupos que frequenta.   É verdade que participa de várias turmas de gastrônomos.  

Uma delas é  Confraria do Bar Oasis, na qual eu também me incluo. É um grupo de senhores, em maioria passados dos 70 anos, que, sob a atenta e  silenciosa  presença do Castanho, dono do bar, e de seus eficientes funcionários,   após o almoço vão todos os dias de semana ao bar Oasis, onde trocam ideias e se comunicam sobre os mais diversos assuntos. Esses assuntos são, em primeiro lugar medicamentos, saúde, médicos e laboratórios. Para isso temos uma competente orientação, pois contamos com nosso presidente, Dr. Donadussi.  Em geral fala-se de tudo: de aeronáutica, pois temos dois ou três afamados pilotos entre nós; do preço da soja e do gado, já que há produtores e plantadores; de mortes, velórios e sepultamentos — pois, pudera, estamos sempre atentos às necrologias; alguns explicam as novelas e os melhores programas e personagens da televisão ou assuntos veiculados na internet; outros abordam temas do futebol e de outros esportes (como não pode deixar de ser, a platéia divide-se entre gremistas e colorados, alguns fanáticos e furiosos;  às vezes alguém suscita a lembrança de  grandes  escândalos,  como  adultérios célebres, passando por inexplicáveis enriquecimentos e outros acontecimentos, ridículos,  jocosos ou vexatórios, protagonizados por personagens do grand monde local, do passado ou contemporâneos. Afinal, já somos páginas vivas da história da cidade,  informados sobre fatos, versões e histórias picantes  que aqui se passaram.  Explicavelmente, ao contrário do que se pensa, pouco falamos de sexo e de mulheres, assuntos sobre os quais já estamos já meio esquecidos ou nos mantemos discretos. Embora tenhamos entre nós professores da Faculdade de Direito, célebres advogados,  promotores aposentados e um juiz do juizado especial, o querido colega Ivo Tasca (já tivemos até juízes de direito), pouco falamos em direito ou assuntos forenses.  Mesmo que nosso grupo abranja um perspicaz analista político, o Aniello D’Arienzo, a política, que já foi um assunto preferido,  é cuidadosamente evitada, pois é da sabedoria geral que  se deve evitar discussões sobre  política e religião.  

Tamanha é a curiosidade que nossas reuniões despertam na cidade, que às vezes aparece algum curioso, ávido para especular sobre os assuntos tratados.  Até senhoras ou jovens da nossa sociedade de quando em quando timidamente assomam à larga porta. Sempre, — fora um caso lamentável acontecido há alguns anos, — são bem tratadas, convidadas às nossas mesas para saborear o indefectível cafezinho e alegrar e integrar o ambiente, que é invariavelmente de cordialidade e respeito, salvo alguns maus humores ou malentendidos ocasionais, logo desfeitos e esquecidos.    

Aldo é o responsável pela organização dos jantares, que são mensais e a cada vez pagos por um confrade diferente.  Os nomes ou surgem espontaneamente  ou são sugeridos por ele.  E ai de quem recusar ou tentar protelar o compromisso.    Para ele, que é a alma e líder do grupo, uma espécie de primeiro-ministro do presidente Donadussi, é uma questão de honra que não deixe de acontecer  nenhum encontro mensal. Mostra-se   implacável  com os   recalcitrantes quando se atrasam ou  se omitem em organizar  — e pagar — os jantares. O bom é que tudo costuma terminar em harmonia, geralmente num dos salões do Clube Comercial, com o grupo empolgado pelos incomparáveis manjares e  vinhos e pela simpatia de  Biasi e da “chef” Lisete.    

Assim  vamos  nós,  por esta quadra da vida, com  Aldo Battisti e o grupo do bar Oasis.

Referências

  1. Frequentador do bar Oasis