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''Em 2018, por [[Marco Antônio Damian]]''
''Em 2018, por [[Marco Antônio Damian]]''


A TRAGÉDIA DO VÔO 280
A TRAGÉDIA DO VÔO 280


[[File:Acidente Varig do vôo 280 2.jpg|left|thumb|155x155px|Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski]]
[[File:Acidente Varig do vôo 280 2.jpg|left|thumb|186x186px|Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski]]
Eram aproximadamente 17,25 horas de uma segunda-feira, dia 1º de julho de 1963. O avião Douglas DC-3, prefixo PP-VBV 280, da Varig, saíra de Porto Alegre com destino final a Erechim e naquele horário decolava do aeroporto de Carazinho, sua primeira escala. A segunda seria em Passo Fundo. Ao decolar, o telegrafista de bordo Ari Santos se comunicou com o Aeroporto Lauro Kortz, solicitando as condições metereológicas. A resposta foi contundente e nervosa: “Peço para apressarem-se, pois um forte nevoeiro se aproxima pelo setor sul”. O aeroporto de Passo Fundo, em que pese às circunstancias desfavoráveis do tempo, naquele momento, oferecia condições para pouso.  
Eram aproximadamente 17,25 horas de uma segunda-feira, dia 1º de julho de 1963. O avião Douglas DC-3, prefixo PP-VBV 280, da Varig, saíra de Porto Alegre com destino final a Erechim e naquele horário decolava do aeroporto de Carazinho, sua primeira escala. A segunda seria em Passo Fundo. Ao decolar, o telegrafista de bordo Ari Santos se comunicou com o Aeroporto Lauro Kortz, solicitando as condições metereológicas. A resposta foi contundente e nervosa: “Peço para apressarem-se, pois um forte nevoeiro se aproxima pelo setor sul”. O aeroporto de Passo Fundo, em que pese às circunstancias desfavoráveis do tempo, naquele momento, oferecia condições para pouso.  
[[File:Acidente Varig do vôo 280 1.jpg|thumb|157x157px|Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski]]
[[File:Acidente Varig do vôo 280 1.jpg|thumb|189x189px|Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski]]
Pouco mais de 30 minutos depois, naquela tarde fria de inverno, os passo-fundenses deixavam seus trabalhos apressados, se encaminhando às suas casas. Repentinamente se surpreenderam com o enorme avião que parecia perder altitude. Voava rasante, atravessando denso nevoeiro. Maior surpresa tiveram os funcionários da Olaria São João, localizada no então distrito de São João da Bela Vista. O enorme avião passou a poucos metros de suas cabeças e próximo ao mato ali existente espatifou-se contra um pé de sapopema. O estrondo foi ensurdecedor. O Douglas DC-3, foi abrindo uma clareira no pequeno mato e as chamas clarearem a noite que se previa gelada.  
Pouco mais de 30 minutos depois, naquela tarde fria de inverno, os passo-fundenses deixavam seus trabalhos apressados, se encaminhando às suas casas. Repentinamente se surpreenderam com o enorme avião que parecia perder altitude. Voava rasante, atravessando denso nevoeiro. Maior surpresa tiveram os funcionários da Olaria São João, localizada no então distrito de São João da Bela Vista. O enorme avião passou a poucos metros de suas cabeças e próximo ao mato ali existente espatifou-se contra um pé de sapopema. O estrondo foi ensurdecedor. O Douglas DC-3, foi abrindo uma clareira no pequeno mato e as chamas clarearem a noite que se previa gelada.  
[[File:Acidente Varig do vôo 280 5.jpg|left|thumb|Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski]]
[[File:Acidente Varig do vôo 280 5.jpg|left|thumb|Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski|150x150px]]
Quem chegou primeiro ao local foram os empregados da Olaria São João, Nicanor Vihnsti, Miguel Rodrigues e Nicanor Lima de Carvalho. Assustados, assistiram à cena mais estarrecedora de suas vidas. O avião em destroços, corpos parcialmente mutilados que jaziam ao solo e alguns sobreviventes se arrastando para longe ao avião que jorrava combustível. Imediatamente as primeiras testemunhas do insólito acidente procuraram ajudar os poucos sobreviventes da tragédia. Eles eram cinco. Duas mulheres e três homens. Uma delas, depois reconhecida como Virginia Lima pôs-se a rezar, ajoelhada próximo ao avião. Em poucos minutos sua voz foi enfraquecendo e ela ainda teve tempo de olhar para o céu cinzento, quase escuro, e tombar sem vida. Outro sobrevivente, José Aramis Rodrigues também rezava e assim o fez até chegar ao Hospital São Vicente de Paulo.  
Quem chegou primeiro ao local foram os empregados da Olaria São João, Nicanor Vihnsti, Miguel Rodrigues e Nicanor Lima de Carvalho. Assustados, assistiram à cena mais estarrecedora de suas vidas. O avião em destroços, corpos parcialmente mutilados que jaziam ao solo e alguns sobreviventes se arrastando para longe ao avião que jorrava combustível. Imediatamente as primeiras testemunhas do insólito acidente procuraram ajudar os poucos sobreviventes da tragédia. Eles eram cinco. Duas mulheres e três homens. Uma delas, depois reconhecida como Virginia Lima pôs-se a rezar, ajoelhada próximo ao avião. Em poucos minutos sua voz foi enfraquecendo e ela ainda teve tempo de olhar para o céu cinzento, quase escuro, e tombar sem vida. Outro sobrevivente, José Aramis Rodrigues também rezava e assim o fez até chegar ao Hospital São Vicente de Paulo.  


Em menos de 20 minutos começaram a chegar os socorros. O Sargento Vitalino da Brigada Militar, inicialmente comandou as operações ao lado de outros policiais militares, policiais civis, bombeiros, policiais rodoviários, militares do exército e até escoteiros, todos chamados ao local para apagarem o fogo, socorrerem os sobreviventes, resgatarem os corpos e também para evitarem saques ao avião. O fato sinistro e sanguinário causou fascínio à população. Milhares de pessoas acorreram ao local. Mais de 800 veículos ficaram estacionados ao longo da rodovia. Pessoas perdidas na escuridão, algumas caminharam mais de cinco quilômetros, com frio intenso, para chegarem ao local. Era um acontecimento único.  
Em menos de 20 minutos começaram a chegar os socorros. O Sargento Vitalino da Brigada Militar, inicialmente comandou as operações ao lado de outros policiais militares, policiais civis, bombeiros, policiais rodoviários, militares do exército e até escoteiros, todos chamados ao local para apagarem o fogo, socorrerem os sobreviventes, resgatarem os corpos e também para evitarem saques ao avião. O fato sinistro e sanguinário causou fascínio à população. Milhares de pessoas acorreram ao local. Mais de 800 veículos ficaram estacionados ao longo da rodovia. Pessoas perdidas na escuridão, algumas caminharam mais de cinco quilômetros, com frio intenso, para chegarem ao local. Era um acontecimento único.  
[[File:Acidente Varig do vôo 280 4.jpg|left|thumb|Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski]]
[[File:Acidente Varig do vôo 280 4.jpg|left|thumb|Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski|150x150px]]
[[File:Acidente Varig do vôo 280 3.jpg|thumb|Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski|150x150px]]
A tripulação era composta por quatro pessoas, todas mortas no momento do acidente. O Comandante se chamava Magnus Bacheuser, que momentos antes da queda foi arremessado para fora da aeronave. Com profundo corte no crânio foi encontrado a uns 20 metros do local. Os demais eram: o Co-piloto José Luis de Moraes Azevedo, o Telegrafista Ari dos Santos e o Comissário de Bordo, Milton Galvão Balaro. Entre os nove passageiros do avião sete morreram no local ou no hospital. Os dois que sobreviveram foram: José Aramis Rodrigues e Celanira Nunes, irmã da outra passageira Virginia Lima. Os mortos eram: Dr. Paulo da Silveira Fernandes, Engenheiro Agrônomo, funcionário da Secretaria Estadual de Agricultura e professor da Faculdade de Agronomia de Passo Fundo. Morava em Porto Alegre, mas havia residido nesta cidade e era casado com Déa Rache Fernandes, de tradicional família passo-fundense; Dom Luiz Felipe de Nadal, Bispo da Diocese de Uruguaiana, vinha a Passo Fundo para participar de um encontro religioso da Congregação Marista; Marialvo Bonassina era funcionário da CEEE e poucos dias antes regressara de Paris, onde havia feito curso de aperfeiçoamento. Vinha a Passo Fundo ministrar curso de elétrotécnica para os funcionários da empresa; Delmar Luiz Rigoni era aluno da Faculdade de Direito de Passo Fundo, na época com freqüência livre. Vinha prestar provas, pois se formaria no final daquele ano; Nelson João Panizzotto, de Porto Alegre, era viajante comercial do Laboratório E.R. Squibb; Virginia Lima, também de Porto Alegre, viera com a irmã Celanira visitar outra irmã que estava enferma e Amílcar Morganti, residia em Erechim e regressava de Porto Alegre à sua cidade.  
A tripulação era composta por quatro pessoas, todas mortas no momento do acidente. O Comandante se chamava Magnus Bacheuser, que momentos antes da queda foi arremessado para fora da aeronave. Com profundo corte no crânio foi encontrado a uns 20 metros do local. Os demais eram: o Co-piloto José Luis de Moraes Azevedo, o Telegrafista Ari dos Santos e o Comissário de Bordo, Milton Galvão Balaro. Entre os nove passageiros do avião sete morreram no local ou no hospital. Os dois que sobreviveram foram: José Aramis Rodrigues e Celanira Nunes, irmã da outra passageira Virginia Lima. Os mortos eram: Dr. Paulo da Silveira Fernandes, Engenheiro Agrônomo, funcionário da Secretaria Estadual de Agricultura e professor da Faculdade de Agronomia de Passo Fundo. Morava em Porto Alegre, mas havia residido nesta cidade e era casado com Déa Rache Fernandes, de tradicional família passo-fundense; Dom Luiz Felipe de Nadal, Bispo da Diocese de Uruguaiana, vinha a Passo Fundo para participar de um encontro religioso da Congregação Marista; Marialvo Bonassina era funcionário da CEEE e poucos dias antes regressara de Paris, onde havia feito curso de aperfeiçoamento. Vinha a Passo Fundo ministrar curso de elétrotécnica para os funcionários da empresa; Delmar Luiz Rigoni era aluno da Faculdade de Direito de Passo Fundo, na época com freqüência livre. Vinha prestar provas, pois se formaria no final daquele ano; Nelson João Panizzotto, de Porto Alegre, era viajante comercial do Laboratório E.R. Squibb; Virginia Lima, também de Porto Alegre, viera com a irmã Celanira visitar outra irmã que estava enferma e Amílcar Morganti, residia em Erechim e regressava de Porto Alegre à sua cidade.  
[[File:Acidente Varig do vôo 280 3.jpg|thumb|Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski]]
 
As causas do acidente do vôo 280 da Varig foram investigadas e analisadas pela Comissão de Acidentes, ligada a Comissão Permanente de Estudos Técnicos da Aviação Civil. Após alguns meses de investigação chegou-se a conclusão de que poderia ter sido falha humana, em razão do tempo desfavorável. Poderia o Comandante ter se comunicado com o aeroporto e seguido viagem até encontrar condições mais favoráveis para o pouso, em outra cidade.  
As causas do acidente do vôo 280 da Varig foram investigadas e analisadas pela Comissão de Acidentes, ligada a Comissão Permanente de Estudos Técnicos da Aviação Civil. Após alguns meses de investigação chegou-se a conclusão de que poderia ter sido falha humana, em razão do tempo desfavorável. Poderia o Comandante ter se comunicado com o aeroporto e seguido viagem até encontrar condições mais favoráveis para o pouso, em outra cidade.  



Latest revision as of 20:26, 20 November 2022

A Tragédia do Vôo 280

Em 2018, por Marco Antônio Damian

A TRAGÉDIA DO VÔO 280

Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski

Eram aproximadamente 17,25 horas de uma segunda-feira, dia 1º de julho de 1963. O avião Douglas DC-3, prefixo PP-VBV 280, da Varig, saíra de Porto Alegre com destino final a Erechim e naquele horário decolava do aeroporto de Carazinho, sua primeira escala. A segunda seria em Passo Fundo. Ao decolar, o telegrafista de bordo Ari Santos se comunicou com o Aeroporto Lauro Kortz, solicitando as condições metereológicas. A resposta foi contundente e nervosa: “Peço para apressarem-se, pois um forte nevoeiro se aproxima pelo setor sul”. O aeroporto de Passo Fundo, em que pese às circunstancias desfavoráveis do tempo, naquele momento, oferecia condições para pouso.

Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski

Pouco mais de 30 minutos depois, naquela tarde fria de inverno, os passo-fundenses deixavam seus trabalhos apressados, se encaminhando às suas casas. Repentinamente se surpreenderam com o enorme avião que parecia perder altitude. Voava rasante, atravessando denso nevoeiro. Maior surpresa tiveram os funcionários da Olaria São João, localizada no então distrito de São João da Bela Vista. O enorme avião passou a poucos metros de suas cabeças e próximo ao mato ali existente espatifou-se contra um pé de sapopema. O estrondo foi ensurdecedor. O Douglas DC-3, foi abrindo uma clareira no pequeno mato e as chamas clarearem a noite que se previa gelada.

Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski

Quem chegou primeiro ao local foram os empregados da Olaria São João, Nicanor Vihnsti, Miguel Rodrigues e Nicanor Lima de Carvalho. Assustados, assistiram à cena mais estarrecedora de suas vidas. O avião em destroços, corpos parcialmente mutilados que jaziam ao solo e alguns sobreviventes se arrastando para longe ao avião que jorrava combustível. Imediatamente as primeiras testemunhas do insólito acidente procuraram ajudar os poucos sobreviventes da tragédia. Eles eram cinco. Duas mulheres e três homens. Uma delas, depois reconhecida como Virginia Lima pôs-se a rezar, ajoelhada próximo ao avião. Em poucos minutos sua voz foi enfraquecendo e ela ainda teve tempo de olhar para o céu cinzento, quase escuro, e tombar sem vida. Outro sobrevivente, José Aramis Rodrigues também rezava e assim o fez até chegar ao Hospital São Vicente de Paulo.

Em menos de 20 minutos começaram a chegar os socorros. O Sargento Vitalino da Brigada Militar, inicialmente comandou as operações ao lado de outros policiais militares, policiais civis, bombeiros, policiais rodoviários, militares do exército e até escoteiros, todos chamados ao local para apagarem o fogo, socorrerem os sobreviventes, resgatarem os corpos e também para evitarem saques ao avião. O fato sinistro e sanguinário causou fascínio à população. Milhares de pessoas acorreram ao local. Mais de 800 veículos ficaram estacionados ao longo da rodovia. Pessoas perdidas na escuridão, algumas caminharam mais de cinco quilômetros, com frio intenso, para chegarem ao local. Era um acontecimento único.

Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski
Acidente Varig do vôo 280 Foto: 1963 Deoclides Czamanski

A tripulação era composta por quatro pessoas, todas mortas no momento do acidente. O Comandante se chamava Magnus Bacheuser, que momentos antes da queda foi arremessado para fora da aeronave. Com profundo corte no crânio foi encontrado a uns 20 metros do local. Os demais eram: o Co-piloto José Luis de Moraes Azevedo, o Telegrafista Ari dos Santos e o Comissário de Bordo, Milton Galvão Balaro. Entre os nove passageiros do avião sete morreram no local ou no hospital. Os dois que sobreviveram foram: José Aramis Rodrigues e Celanira Nunes, irmã da outra passageira Virginia Lima. Os mortos eram: Dr. Paulo da Silveira Fernandes, Engenheiro Agrônomo, funcionário da Secretaria Estadual de Agricultura e professor da Faculdade de Agronomia de Passo Fundo. Morava em Porto Alegre, mas havia residido nesta cidade e era casado com Déa Rache Fernandes, de tradicional família passo-fundense; Dom Luiz Felipe de Nadal, Bispo da Diocese de Uruguaiana, vinha a Passo Fundo para participar de um encontro religioso da Congregação Marista; Marialvo Bonassina era funcionário da CEEE e poucos dias antes regressara de Paris, onde havia feito curso de aperfeiçoamento. Vinha a Passo Fundo ministrar curso de elétrotécnica para os funcionários da empresa; Delmar Luiz Rigoni era aluno da Faculdade de Direito de Passo Fundo, na época com freqüência livre. Vinha prestar provas, pois se formaria no final daquele ano; Nelson João Panizzotto, de Porto Alegre, era viajante comercial do Laboratório E.R. Squibb; Virginia Lima, também de Porto Alegre, viera com a irmã Celanira visitar outra irmã que estava enferma e Amílcar Morganti, residia em Erechim e regressava de Porto Alegre à sua cidade.

As causas do acidente do vôo 280 da Varig foram investigadas e analisadas pela Comissão de Acidentes, ligada a Comissão Permanente de Estudos Técnicos da Aviação Civil. Após alguns meses de investigação chegou-se a conclusão de que poderia ter sido falha humana, em razão do tempo desfavorável. Poderia o Comandante ter se comunicado com o aeroporto e seguido viagem até encontrar condições mais favoráveis para o pouso, em outra cidade.

Passaram 55 anos deste acontecimento e felizmente nunca mais ocorreu tragédia dessa natureza em nossa cidade.

Referências