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O acadêmico que escreveu números
Em 30/04/2006, por Gilberto Rocca da Cunha
O acadêmico que escreveu números[1]
GILBERTO R. CUNHA
Não foi em prosa ou verso, mas em números, que se notabilizou a obra de um dos fundadores do Grêmio Passo-Fundense de Letras (atual Academia Passo-Fundense de Letras). Estou me referindo a Oscar Kneipp. cujo nome consta na relação dos intelectuais que assinaram a sua ata de fundação, datada de 7 de abril de 1938, sob a presidência de Arthur Ferreira Filho; bem como a de reestruturação dessa entidade, um ano depois, sob a direção de Antonino Xavier e Oliveira. Por mais que se busque nos documentos e atas de reuniões do Grêmio Passo-Fundense de Letras, não se encontra nada além de uma mera presença "discreta" de Oscar Kneipp, no dia-a-dia do sodalício das letras locais, nos anos 1940. Quando, em 7 de abril de 1961, o antigo Grêmio Passo-Fundense de Letras, sob o comando de Celso da Cunha Fiori, assumiu a personalidade da atual Academia Passo-Fundense de Letras, Oscar Kneipp não mais integrava os seus quadros. Tanto é assim, que seu nome não consta nas obras seminais da história da Academia Passo-Fundense de Letras, escritas pelo Professor Sabino Santos: Os Imortais de Passo Fundo (1963) e Academia Passo-Fundense de Letras (1965). Todavia, nos registros das observações meteorológicas em nossa cidade, o nome de Oscar Kneipp se sobressai como um dos mais importantes protagonistas da história da meteorologia local.
Oscar Kneipp nasceu em Itaqui, em 1905, e morreu em Passo Fundo, em 1984. Em 1930, deixou Uruguaiana para completar seus estudos no Instituto Educacional (EE), em Passo Fundo. Por influência do diretor daquele estabelecimento, Professor Schisler, conseguiu uma colocação de observador na estação meteorológica que funcionava junto ao IE. Acabaria, oficialmente, admitido na função, em 5 de agosto de 1942, vindo a se aposentar no cargo de auxiliar de meteorologia, em 21 de outubro de 1977. Foram mais de 35 anos ininterruptos de trabalho como observador meteorológico em Passo Fundo. Uma função que exige disciplina e responsabilidade, seguindo uma rotina de leituras em instrumentos e de preparação e envio de mensagens meteorológicas três vezes ao dia. Por dever de ofício, posso dizer que "li toda a obra" de Oscar Kneipp. Quando da preparação do Atlas Agroclimático do RS, que viria a ser publicado me 1989, coube a mim - iniciando a trabalhar no serviço de meteorologia agrícola do Instituto de Pesquisas Agronômicas, em Porto Alegre, em setembro de 1978 - digitar a série histórica de dados meteorológicos do estado, entre as quais se incluíam os manuscritos assinados por Oscar Kneipp. Nessa época sequer imaginava que um dia eu viria viver em Passo Fundo, e que muitos anos depois iria fazer parte dos quadros da APL e, muito menos ainda, que, tomado de surpresa, nos documentos da entidade, encontraria o nome de Oscar Kneipp na relação dos seus fundadores. Por isso, mais que qualquer outro, sou testemunha da obra monumental "escrita em números" por Oscar Kneipp.
Ligado à comunidade metodista, Oscar Kneipp teve toda uma vida dedicado ao IE. Foi professor de Geografia (durante 35 anos), diretor do internato (por 45 anos) e presidente do "Grêmio Literário Castro Alves" ao longo de 17 anos.
Oscar Kneipp foi casado com Cecília Borges Kneipp. Tiveram dois filhos: Oscar e Leda. Em I962,recém- formado arquiteto, Oscar Kneipp (o filho) foi para Brasília, onde mora até hoje, para trabalhar na Companhia Urbanizadora da Nova Capital, a Novacap. Leda seguiria a carreira dos pais e, hoje, professora aposentada e viúva, reside em Passo Fundo. Do seu casamento com o advogado Atílio Giaretta nasceram cinco filhos (Mirian, Mariane, Rafael, Juliana e Maurício).
Na visão da família, Oscar Kneipp era um grande apreciador das lides literárias e educacionais. As netas Mirian e Juliana caracterizam Kneipp como um homem calmo, sereno, diplomático, dedicado à família e religioso. Nas lembranças delas, sobressaem-se as de um avô que compartilhava as tarefas domésticas com Dona Cecília, sempre acompanhado de livros, revistas e jornais, e que tinha por hábito, após os cultos religiosos dos domingos, levá-las para comer doces na confeitarias da cidade.
Os ex-alunos do IE, caso de Antônio Carlos Homrich, lembram de Oscar Kneipp como um excelente professor de Geografia ("sabia o nome de todos os países e suas capitais"), envolvido com as olimpíadas das escolas metodistas (controlador da tarefa do desenho do mapa do Brasil) e com os concursos bíblicos da instituição.
Não há dúvida de que Oscar Kneipp, com o seu trabalho e prática de vida, dignificou o compromisso que assumiu ao assinar a ata de fundação do Grêmio Passo-Fundense de Letras, em 1938.
Referências
- ↑ Da Revista - Água da Fonte n° 4