Difference between revisions of "O Relógio da Tapera"
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| colspan="2" |[[File:O Relógio da Tapera.jpg|center|thumb|O Relógio da Tapera<ref>BARBOSA, Fidélis D. (1969) [https://projetopassofundo.wiki.br/images/2/2f/O_rel%C3%B3gio_da_taperaEbk.pdf O Relógio da Tapera] -Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 2014 146 páginas. E-book</ref>]] | |||
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| colspan="2" style="text-align:center;"|'''Descrição da obra''' | |||
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|Projeto Passo Fundo | |Projeto Passo Fundo | ||
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| | |Publicação | ||
|2014 | |2014 | ||
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| | |Páginas | ||
|146 | |146 | ||
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|São Miguel | |São Miguel | ||
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| | |Publicação | ||
|1969 | |1969 | ||
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'''O Relógio da Tapera''' FOI HÁ MUITOS ANOS — À meia-noite em ponto, quando o velho relógio de parede batia as doze badaladas, deu-se um crime monstruoso naquela casa. O cronômetro vibrou freneticamente a última pancada e, horrorizado, lavrando um protesto, deixou de andar. Os ponteiros imobilizaram-se, um sobre o outro, marcando a hora do crime. Parou e não houve que pudesse fazê-lo andar. E ninguém foi capaz de apeá-lo do seu prego na parede. O relógio deixou de andar, mas à meia-noite em ponto, toda s as noites, continuou a vibrar as doze marteladas. A família nunca mais encontrou sossego, como perseguida por negra maldição. Foi compelida a abandonar a fatídica moradia. O relógio lá ficou, sozinho, na tapera assombrada, a bater teimosamente as doze badaladas, à meia-noite em ponto. O rolar dos anos desmoronou a velha casa abandonada. Do relógio ninguém mais soube notícias. Dizem que à meia-noite ele aparece, suspenso ao paredão, na outra margem do rio, de fronte ao local da tapera. Ouvem-se, então, as sinistras pancadas, assinalando a hora do crime.. | |||
'''O Relógio da Tapera''' um | |||
== Apresentação == | == Apresentação == | ||
''Prefácio, por [[Ermano Varaschin]]'' | |||
Em “O RELÓGIO DA TAPERA”, especialmente os que se dedicam à pesquisa das coisas do passado, encontram, como em velho armário, objetos do mais profundo sentido humano. | |||
Esses objetos, são os fatos históricos que entreabrem o espírito do leitor para acontecimentos ocorridos em fins do século passado, princípios deste, bem como fatos da época em transe, sobre os quais, confessamos a rara fidelidade como são narrados. | |||
Neles sentimos desde a chama que envolve a isca fatal à pomba rameira, os socós sonolentos que espalmam suas asas como um brado de paz, as aves pescarejas que montam guarda junto à lagoa-vermelha, — o corte transversal que joga em cena o descampado incomensurável que se perde no infinito, vez por outra respingando de caponetes solitários — densos buquês de ipês, canjeranas e maracujás — que junto aos grotões serviam de poleiro seguro aos desmandados da época e os temíveis grupões de bugres sedentos do sangue dos brancos. | |||
Parte deste quadro é um poema, para os acampamentos revolucionários de 93, 23 e 30, descrevendo junto à natureza, toda uma paisagem humana que ensopou de sangue o solo mártir do Rio Grande. | |||
Com singular presteza de ideias, nos remete aos caudilhos, valentões, fantasmas e lobisomens que povoavam este torrão gaúcho e como tapejaras incansáveis se gabavam de ser os donos da querência. | |||
da | Numa suavidade de entardecer sorridente escava e escavaca da memória dos antigos, casos e fatos, lendas e acontecimentos que serviram de néctar delicioso à formação desta grandiosa colmeia nordestina. | ||
== | É maravilhoso o “Relógio da Tapera”, pois leva o registro histórico de nossa gente, para o mangueirão grande de nossa memória e deita no chão gaúcho um pouco mais de cerne de tarumã que serviu de esteio na formação da raça. É bem verdade, como este prefácio, encerra a humildade de quem não pensa em revolucionar a literatura, mas tão somente narrar com modéstia as coisas do passado, os fatos preteridos, nascidos, crescidos e tornados grandes neste planalto soberbo do vetusto continente de São Pedro. | ||
Iniciando pelas primeiras tropeadas do ser civilizante pelas paragens do altiplano, marcando no rastro das andanças a imagem dos centauras que de lança em punho, nos entreveros legendários das revoluções, riscaram desde as montanhas às canhadas, sob a barragem de fogo dos entreveros a mais vibrante história deste povo. | |||
Retalhos encantadores da vida de nossa gente, são descritos pelo Autor, como que embebidos na promessa da natureza em ressurgir de um acervo de escombros o ninho sagrado do Rio Grande. A formação social deste lado de nossa terra, nasce, parece ainda estar nascendo emoldurada entre os recortes apenínicos, junto ao tombo das cascatas — cenário infinito de coloridos — que serviu de tabuleiro às disputas, aos embates, choques e contramarchas, têmpera de ferro ao caldeamento da raça. | |||
Ao terminar a leitura de “Relógio da Tapera”, sente-se o leitor com a sensação de quem está retornando de uma longa viagem, havendo deixado para trás, os campos desertos de seres e almas, metralhas e tumbas, refregas e cargas. Regressa, olhar embriagado no dorso das coxilhas lágrimas de saudade que batem como chuva predileta na porteira erguida entre as tronqueiras do passado. | |||
Um corisco pensamental corta o horizonte e aos poucos as imagens se apagam. Ficam, contudo, os contornos da Tapera, envoltos em guanxumas e capim de santa-fé. Encostado ao velho cinamomo, algum crioulo perdido, rebate nas horas perdidas do relógio fantasma o sangue que pulsou nas veias da terra. | |||
Vacaria, 3 de outubro de 1969. (Ermano Varaschin) | |||
== Índice == | |||
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| | *PREFÁCIO 7 | ||
* Cap. 01 FOI HÁ MUITOS ANOS 9 | |||
* Cap. 02 DIA 3 DE JULHO DE 1967 10 | |||
* Cap. 03 NAQUELE DIA, CHEGAMOS A GRANJA 11 | |||
* Cap. 04 PREVENI OS COMPANHEIROS 12 | |||
* Cap. 05 SAÍ DO MATO 14 | |||
* Cap. 06 LÁ DO ALTO DO MEU ÊXTASE 15 | |||
* Cap. 07 MAS AGORA, NA BARRANCA DO TURVO 17 | |||
* Cap. 08 UMA CHAMA RESOLVE 18 | |||
* Cap. 09 INCRÍVEL A INEXISTÊNCIA DE MORADIA 19 | |||
* Cap. 10 VAI SENÃO QUANDO 19 | |||
* Cap. 11 MAIS PARA FRENTE UM POUCO 21 | |||
* Cap. 12 MAS EU ESTOU CANSADO 23 | |||
* Cap. 13 DEVO, CONTUDO, DAR PRIMEIRO 24 | |||
* Cap. 14 MAS EU, FELIZ COM A MINHA CAÇADA 25 | |||
* Cap. 15 A EXTENSÃO DE CAMPINA ONDULADA 26 | |||
* Cap. 16 OS MISSIONÁRIOS ENCONTRARAM 28 | |||
* Cap. 17 FOI SÓ EM 1690 QUE CRISTÓVÃO PEREIRADE ABREU 29 | |||
* Cap. 18 A CINCO QUILÔMETROS DA CIDADE 30 | |||
* Cap. 19 OS PRIMEIROS MORADORES 31 | |||
* Cap. 20 JOÃO MARIANO PIMENTEL 32 | |||
* Cap. 21 JOÃO MARIANO VIAJARA 33 | |||
* Cap. 22 D. BÁRBARA RECONHECE 35 | |||
* Cap. 23 A GRANDE FAMÍLIA BORGES VIEIRA 38 | |||
* Cap. 24 NÃO SE DESCREVE A FESTA 39 | |||
* Cap. 25 APÓS O NECESSÁRIO DESCANSO 41 | |||
* Cap. 26 CURIOSO DE SABER OUTROS PORMENORES 41 | |||
* Cap. 27 E O SR. LIBÓRIO PIMENTEL 44 | |||
* Cap. 28 UM DOS PRIMEIROS MORADORES 46 | |||
* Cap. 29 OS CAMPOS DE LAGOA VERMELHA 47 | |||
* Cap. 30 A COLUNA DE GUMERCINDO SARAIVA 48 | |||
| | |||
*Cap. 31 DECORRIDO UM MÊS 50 | |||
* Cap. 32 LAGOA VERMELHA 54 | |||
* Cap. 33 A REVOLUÇÃO DE 93 55 | |||
* Cap. 34 DÁ MESMO PRAZER ESCUTAR 56 | |||
* Cap. 35 AMÂNSIO, FILHO DE CHICO JOÃO 58 | |||
* Cap. 36 NO BARRACÃO 61 | |||
* Cap. 37 OS MENDES DA FAZENDA DO PONTÃO 63 | |||
* Cap. 38 MAS A SINISTRA PÁGINA DE SANGUE 67 | |||
* Cap. 39 A REVOLUÇÃO DE 93 DEIXARA 68 | |||
* Cap. 40 MORTE IGUALMENTE TRÁGICA 70 | |||
* Cap. 41 O DR. ANTÔNIO AUGUSTO BORGES DE MEDEIROS 71 | |||
* Cap. 42 ALÉM DAS INFORMAÇÕES 72 | |||
* Cap. 43 DAVAM-SE ENTÃO CASOS 75 | |||
* Cap. 44 NO DIA 17, AS FORÇAS DE PORTINHO 75 | |||
* Cap. 45 JOSÉ BORGES TEIXEIRA 77 | |||
* Cap. 46 E JOSÉ BORGES TEIXEIRA PROSEGUE 80 | |||
* Cap. 47 FABRÍCIO VIEIRA 86 | |||
* Cap. 48 SEVERINA LOURENÇO DE LIMA BONALDI 88 | |||
* Cap. 49 MAURÍCIO ALVES HOFFMANN 90 | |||
* Cap. 50 NO MESMO DIA 21 DE SETEMBRO 95 | |||
* Cap. 51 JOÃO FERREIRA CARPES 96 | |||
* Cap. 52 ATÉ AGORA SÓ OUVIMOS REVOLUCIONÁRIOS 99 | |||
* Cap. 53 DURANTE A REVOLUÇÃO DE 1923 102 | |||
* Cap. 54 FREI GENTIL DE CARAVAGGIO 107 | |||
* Cap. 55 FREI GENTIL DEIXOU ESCRITOS 118 | |||
* Cap. 56 FOI NO CAPÃO BONITO 122 | |||
* Cap. 57 O CORONEL GUSTAVO BERTHIER 123 | |||
* Cap. 58 GUSTAVO BERTHIER 126 | |||
* Cap. 59 ERAM DOIS NEGRINHOS DA FAZENDADOS GREGÓRIOS 128 | |||
* Cap. 60 MAS VOLTEMOS À TAPERA ASSOMBRADA 133 | |||
* NO 8° RODEIO DE VACARIA - Posfácio 143 | |||
|} | |} | ||
== Conteúdos relacionados == | |||
== Referências == | |||
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Latest revision as of 10:52, 5 October 2023
O Relógio da Tapera | |
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Descrição da obra | |
Autor | Fidélis Dalcin Barbosa |
Título | O Relógio da Tapera |
Assunto | Crônicas |
Formato | E-book (formato PDF) |
Editora | Projeto Passo Fundo |
Publicação | 2014 |
Páginas | 146 |
ISBN | 978-85-8326-075-2 |
Formato | Papel 15 x 21 cm |
Editora | São Miguel |
Publicação | 1969 |
O Relógio da Tapera FOI HÁ MUITOS ANOS — À meia-noite em ponto, quando o velho relógio de parede batia as doze badaladas, deu-se um crime monstruoso naquela casa. O cronômetro vibrou freneticamente a última pancada e, horrorizado, lavrando um protesto, deixou de andar. Os ponteiros imobilizaram-se, um sobre o outro, marcando a hora do crime. Parou e não houve que pudesse fazê-lo andar. E ninguém foi capaz de apeá-lo do seu prego na parede. O relógio deixou de andar, mas à meia-noite em ponto, toda s as noites, continuou a vibrar as doze marteladas. A família nunca mais encontrou sossego, como perseguida por negra maldição. Foi compelida a abandonar a fatídica moradia. O relógio lá ficou, sozinho, na tapera assombrada, a bater teimosamente as doze badaladas, à meia-noite em ponto. O rolar dos anos desmoronou a velha casa abandonada. Do relógio ninguém mais soube notícias. Dizem que à meia-noite ele aparece, suspenso ao paredão, na outra margem do rio, de fronte ao local da tapera. Ouvem-se, então, as sinistras pancadas, assinalando a hora do crime..
Apresentação
Prefácio, por Ermano Varaschin
Em “O RELÓGIO DA TAPERA”, especialmente os que se dedicam à pesquisa das coisas do passado, encontram, como em velho armário, objetos do mais profundo sentido humano.
Esses objetos, são os fatos históricos que entreabrem o espírito do leitor para acontecimentos ocorridos em fins do século passado, princípios deste, bem como fatos da época em transe, sobre os quais, confessamos a rara fidelidade como são narrados.
Neles sentimos desde a chama que envolve a isca fatal à pomba rameira, os socós sonolentos que espalmam suas asas como um brado de paz, as aves pescarejas que montam guarda junto à lagoa-vermelha, — o corte transversal que joga em cena o descampado incomensurável que se perde no infinito, vez por outra respingando de caponetes solitários — densos buquês de ipês, canjeranas e maracujás — que junto aos grotões serviam de poleiro seguro aos desmandados da época e os temíveis grupões de bugres sedentos do sangue dos brancos.
Parte deste quadro é um poema, para os acampamentos revolucionários de 93, 23 e 30, descrevendo junto à natureza, toda uma paisagem humana que ensopou de sangue o solo mártir do Rio Grande.
Com singular presteza de ideias, nos remete aos caudilhos, valentões, fantasmas e lobisomens que povoavam este torrão gaúcho e como tapejaras incansáveis se gabavam de ser os donos da querência.
Numa suavidade de entardecer sorridente escava e escavaca da memória dos antigos, casos e fatos, lendas e acontecimentos que serviram de néctar delicioso à formação desta grandiosa colmeia nordestina.
É maravilhoso o “Relógio da Tapera”, pois leva o registro histórico de nossa gente, para o mangueirão grande de nossa memória e deita no chão gaúcho um pouco mais de cerne de tarumã que serviu de esteio na formação da raça. É bem verdade, como este prefácio, encerra a humildade de quem não pensa em revolucionar a literatura, mas tão somente narrar com modéstia as coisas do passado, os fatos preteridos, nascidos, crescidos e tornados grandes neste planalto soberbo do vetusto continente de São Pedro.
Iniciando pelas primeiras tropeadas do ser civilizante pelas paragens do altiplano, marcando no rastro das andanças a imagem dos centauras que de lança em punho, nos entreveros legendários das revoluções, riscaram desde as montanhas às canhadas, sob a barragem de fogo dos entreveros a mais vibrante história deste povo.
Retalhos encantadores da vida de nossa gente, são descritos pelo Autor, como que embebidos na promessa da natureza em ressurgir de um acervo de escombros o ninho sagrado do Rio Grande. A formação social deste lado de nossa terra, nasce, parece ainda estar nascendo emoldurada entre os recortes apenínicos, junto ao tombo das cascatas — cenário infinito de coloridos — que serviu de tabuleiro às disputas, aos embates, choques e contramarchas, têmpera de ferro ao caldeamento da raça.
Ao terminar a leitura de “Relógio da Tapera”, sente-se o leitor com a sensação de quem está retornando de uma longa viagem, havendo deixado para trás, os campos desertos de seres e almas, metralhas e tumbas, refregas e cargas. Regressa, olhar embriagado no dorso das coxilhas lágrimas de saudade que batem como chuva predileta na porteira erguida entre as tronqueiras do passado.
Um corisco pensamental corta o horizonte e aos poucos as imagens se apagam. Ficam, contudo, os contornos da Tapera, envoltos em guanxumas e capim de santa-fé. Encostado ao velho cinamomo, algum crioulo perdido, rebate nas horas perdidas do relógio fantasma o sangue que pulsou nas veias da terra.
Vacaria, 3 de outubro de 1969. (Ermano Varaschin)
Índice
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Referências
- ↑ BARBOSA, Fidélis D. (1969) O Relógio da Tapera -Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 2014 146 páginas. E-book