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Não por acaso, o Visconde ficava nos limites do bairro Boqueirão, segundo relatos, “um reduto passo-fundense dos crioulos”. Seu fundador foi Sebastião Braga, que, ao contrário do nome, era negro e palhaço de profissão, chegado a Passo Fundo em um circo de burlantim.
Não por acaso, o Visconde ficava nos limites do bairro Boqueirão, segundo relatos, “um reduto passo-fundense dos crioulos”. Seu fundador foi Sebastião Braga, que, ao contrário do nome, era negro e palhaço de profissão, chegado a Passo Fundo em um circo de burlantim.
[[File:Bloco carnavalesco Trinta e Três da Pontinha.jpg|left|thumb|150x150px|Trinta e Três da Pontinha Foto: 1930 Desconhecido Arquivo Maria de Lourdes Isaias]]
[[File:Bloco carnavalesco Trinta e Três da Pontinha.jpg|left|thumb|150x150px|Trinta e Três da Pontinha Foto: 1930 Desconhecido Acervo Edy Isaias]]
O primeiro e mais famoso bloco do clube foi o Trinta e Três da Pontinha (foto), que desfilou pela primeira vez em 1933. Os carros alegóricos montados pelo bloco tinham mais de quatro metros de altura e eram iluminados, além do que as fantasias eram de cetim e lamê importados, tudo custeado pelos integrantes da entidade, sem apoio do poder público. Quanta diferença...
O primeiro e mais famoso bloco do clube foi o Trinta e Três da Pontinha (foto), que desfilou pela primeira vez em 1933. Os carros alegóricos montados pelo bloco tinham mais de quatro metros de altura e eram iluminados, além do que as fantasias eram de cetim e lamê importados, tudo custeado pelos integrantes da entidade, sem apoio do poder público. Quanta diferença...



Latest revision as of 10:13, 15 January 2022

Um carnaval que passou em Passo Fundo...

Em 07/08/2007, por Maria de Lourdes Isaias


Maria de Lourdes Isaias


As origens do carnaval têm sido buscadas nas mais antigas celebrações orgíacas, que remontam ao Império Romano. Em Portugal, liga-se muito à antítese entre o religioso e o profano. Resumindo: ao período da quaresma antecedia-se o de liberação, com manifestações tipo o entrudo e a permissão de comer carne, por exemplo.

Em terras de Passo Fundo, segundo relatos do prof. Edy Isaias, tudo começa a tomar forma com a fundação do Clube Visconde do Rio Branco, pois de dentro deste originaram-se as mais variadas manifestações e entidades que deram vida ao carnaval da cidade como hoje conhecemos. Assim, em 23 de abril de 1916 (dia de Ogum), surgiu o Clube Recreativo Visconde do Rio Branco. A memória da escravidão era ainda muito viva.

Não por acaso, o Visconde ficava nos limites do bairro Boqueirão, segundo relatos, “um reduto passo-fundense dos crioulos”. Seu fundador foi Sebastião Braga, que, ao contrário do nome, era negro e palhaço de profissão, chegado a Passo Fundo em um circo de burlantim.

Trinta e Três da Pontinha Foto: 1930 Desconhecido Acervo Edy Isaias

O primeiro e mais famoso bloco do clube foi o Trinta e Três da Pontinha (foto), que desfilou pela primeira vez em 1933. Os carros alegóricos montados pelo bloco tinham mais de quatro metros de altura e eram iluminados, além do que as fantasias eram de cetim e lamê importados, tudo custeado pelos integrantes da entidade, sem apoio do poder público. Quanta diferença...

Apesar do claro caráter étnico, uma vez que “todos os negros da cidade se encontravam no Clube Visconde”, a agremiação não tinha caráter xenófobo ou racista, promovendo bailes de integração com outro clube freqüentado pela elite. Porém, mesmo aí se percebe a sobrevivência do preconceito nascido de séculos de escravidão: segundo o prof. Edy Isaías, enquanto o Visconde recebia quantos foliões da entidade mais abastada quisessem visitá-lo, na noite seguinte “era selecionada uma turma do Visconde para dançar uns minutos” no outro clube.

Assim, desde os anos do bloco Trinta Três da Pontinha, além de outros como Sacarolha e Vai-Como-Pode, até os nossos dias, o Carnaval de Passo Fundo somente evolui. Nas décadas de sessenta e setenta era comum que com as Escolas de samba desfilassem blocos de sociedades, tais como as dos Clubes Juvenil, Comercial e Caixeral, tornando o carnaval de rua uma verdadeira festa de alegria e integração social de nossa comunidade.

Não se pode esquecer de citar a participação de Armando Cavalcante, que foi um dos mais famosos reis momos do carnaval da cidade. Nesse ínterim, os memoráveis carnavais promovidos pela extinta Rádio Municipal, organizado pelo radialista Carlos Alberto Valadares, nas quadras defronte as suas instalações na Rua Independência.

De dentro do Clube Visconde do Rio Branco, surgiram entidades importantes do carnaval de Passo Fundo, tais como: Garotos da Batucada, foi a primeira escola de samba fundada em Passo Fundo, no ano de 1952; os Particulares do Ritmo, campeão por muitos anos do carnaval de rua, Bonsucesso, Mocidade Independente, União da Vila, Bambas da Orgia, Imperadores do Samba, Águia Dourada, Pandeiro de Prata, Era de Aquários, Acadêmicos do Sol etc.

Como carnavais memoráveis citamos os de 1970, quando o carnaval de rua de Passo Fundo passou a incorporar as estruturas utilizadas no do centro do país (enredos, fantasias enredo, porta-bandeira, porta estandarte, comissão de frente, bateria, alegorias...). Uma participação muito importante foi a do Clube Industrial, que em 1985 organizou um memorável enredo, uma das mais numerosas e produzidas encenações de enredo de carnaval.

Por fim, como tributo a tantos que abrilhantaram o carnaval de rua de nossa cidade, devemos citar: Cláudio Dorinho Machado, Olinto Lima, Clododomiro Machado, Francisco Eucalião da Silva, Valentin Viana, José Leônidas Ribeiro, Benoni Von Borowsky, Wolmar Santos, Maria da Graça, Walter Ribeiro, José Antonio Cavalheiro, Jorge Carrão, Fabio, Saul Custódio, Nery Ribeiro, Jorge Pinheiro, Djanira Ribeiro, José Antonio Tedesco, Ivaldino Rezende, Alvarino da Silva Azeredo, Marquito Campos, Ramon Gadenz da Silva, Ramonita Iza Machado da Cruz, Sabão, Terezinha da Silva Isaias, Armando Almeida da Cruz. Com certeza muitos outros anônimos carnavalescos desta festa popular, cujas participações tornaram esta festividade uma das melhores e mais concorridas do interior do Estado.

Referências