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––Avisei, mamãe, que não confiasse nessa gente. Como a senhora sempre diz: pra tudo existe uma solução, falou o Tonico, filho do meio, vagabundo que só ele. Tem o seu filho Demétrio que pode comprar a terra e tudo ficará como dantes, em família. Ele até pro- meteu dar uma beira para mim e para a Andreia.
––Avisei, mamãe, que não confiasse nessa gente. Como a senhora sempre diz: pra tudo existe uma solução, falou o Tonico, filho do meio, vagabundo que só ele. Tem o seu filho Demétrio que pode comprar a terra e tudo ficará como dantes, em família. Ele até pro- meteu dar uma beira para mim e para a Andreia.
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Capa: Maria Lucina Busato Bueno
Downloads
File:Casa em chamasEbk.pdf
Autor Agostinho Both
Título Casa em chamas
Assunto Romance
Formato E-book (formato PDF)
Editora Projeto Passo Fundo
Data da publicação 2019
Número de páginas 120
ISBN 978-85-8326-386-9
Formato Papel 15 x 21 cm
Data da publicação 2019
Número de páginas 116
ISBN 978-85-8326-385-2

Casa em chamas - Foram dias de tempestade para Teófilo. A natureza falava alto, a força divina pouco invocada, o desejo uma torrente e a vontade, dúbia. Foi ter com o pastor para ver como diminuir a tentação que se alastrava pelo corpo e alma. Não havia água suficiente para apagar a sede.  

–– Estou como Davi, pastor Norberto. Tenho tanto medo de desgostar Manoela. Se Davi viu a mulher de Urias nua, estou tentado, mesmo vendo a Simone toda vestida.

–– É loucura ver o que viu e fez Davi. Nestes casos não há outra solução. É matar a pau esse diabo que te devora. Manda embora essa mulher, já que não controla o corpo e a tua arma; quer dizer, a alma.

Livro escrito por Agostinho Both, publicado em 2019.

Apresentação

do Primeiro Capítulo, pelo Autor

A CASA DE VERA CRUZ

Aqueles foram dias perversos para a senhora Vera Cruz. O marido, falecido há duas décadas, deixara uma herança maldita. A pobre mulher teve em seu desfavor o pagamento de trezentos mil reais em dívidas para o senhor inglês, George Canning. A viúva sentiu a independência financeira chegar ao fim. Os agregados e vizinhos não tiveram respeito para com ela, dizendo–lhe: que se avenha! Mostravam filhos e netos, explicando o quanto para eles era difícil o sustento. Cada um dos devedores buscou ludibriar da melhor manei- ra a velha senhora.

O marido João, fugido de Portugal, até que se dera bem na exploração das riquezas nativas. Sofria de uma mania: não levar a sério as contas. Farreava tanto quanto os filhos. Resultou aquela estúpida dívida. Pra maior desespero de Vera, descobriu que, além da dívida para com George, havia dívidas com o fisco. Para aliviar–se fez amizade com um político da capital, facilitando-lhe o pagamento ao tesouro nacional. O homem da vida pública pediu dez por cento do valor devido: a senhora sabe como é difícil a vida de um político, explicava–se. Assim conseguiu o livramento dos impostos.

George, bem como todos ingleses da história brasileira, não poupou a velha senhora, jactava-se ser descendente de George VI, Rei do Reino Unido da Grã–Bretanha e Irlanda, Rei de Hanôver e Duque de Brunsvique. Não costumava tergiversar com dinheiro. Pontificava: I want my Money!

Dos restantes débitos, ela que a pau, corda e justiça, conseguiu amealhar cento e cinquenta mil reais dos vizinhos, faltando–lhe outro tanto.

Enquanto se sucediam os dias, Vera se quebrava a ver o quanto mais poderia amealhar. Veio, então, outro político em socorro.

–– Dona Vera, tenho uma proposta para saldar o que deve.

–– Vem de lá que respondo daqui. Andava sestrosa, pois a política andava muito corrompida. Não desejava que lhe comprometessem o nome.

–– Pode retirar um empréstimo bancário pra pagar o restante ao senhor Canning. Serei o avalista. Quando vier a cobrança, confie em mim, serei seu fiador.

–– A troco de que tanta bondade?

–– Me dou demais com a diretoria em Brasília. Se a senhora me alcançar dez por certo do empréstimo e uns boizinhos, será a conta.

–– Tão bonitos meus bichinhos, dois anos de pasto, reclamava. Assim, completou–se o pagamento ao George Canning.

Certo dia de sol de acabar com as vistas, ela viu um senhor adentrar–se pelo portão da casa. Veio trazer–lhe a cobrança do em- préstimo bancário com juros módicos. Não teve dúvidas. Solita, dirigiu–se ao político lembrando o prometido.

–– Não é mais possível. Consegui retirar do banco o título de fiador. Estou listo, me custou um bom dinheiro. Tudo se tornou mais difícil. A polícia está cercando certos políticos. Não quero compro- meter a minha honra. Vou conseguir devolver os boizinhos.

–– E eu, como é que fico?

–– Fica com a dívida. Consegui um juro bem baixinho. Ou quem

sabe entrega parte da pastagem. Para que se matar no fim da vida?

Espalhou–se a notícia pelo campo afora: Vera está entregando as terras.

––Avisei, mamãe, que não confiasse nessa gente. Como a senhora sempre diz: pra tudo existe uma solução, falou o Tonico, filho do meio, vagabundo que só ele. Tem o seu filho Demétrio que pode comprar a terra e tudo ficará como dantes, em família. Ele até pro- meteu dar uma beira para mim e para a Andreia.

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