Seminário Estuda Revolução Federalista

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Seminário Estuda Revolução Federalista

Em 2013, por Paulo Domingos da Silva Monteiro


Paulo Monteiro[1]


Durante os dias 27, 28 e 29 de junho, numa promoção da Secretaria Municipal de Desporto, Turismo e Cultura, os passo-fundenses tiveram a oportunidade de ouvir palestras sobre a Revolução Federalista ou Revolução de 1893 em Passo Fundo.


NESLON BOEIRA|

O primeiro palestrante foi Nelson Boeira, reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que falou sobre a influência do Positivismo no Estado e, em particular, sobre aquele movimento armado.

Para Nelson Boeira, a História do Rio Grande do Sul, com menos de 300 anos, é curta, comparada com outros estados, mas e muito rica, pouco conhecida e com certas partes ainda muito menos conhecidas. Falar do passado e ouvir alguma coisa sobre ele nos causa dificuldades. É como andar por uma rua onde as casas foram destruídas. Precisamos ser um pouco detetives, pois nossa maneira de pensar mudou e não temos a sensibilidade dos antigos.

Assim, são muitas as dificuldades que se nos apresentam quando falamos da Revolução Federalista. Uma delas é o fato de que o Positivismo, uma concepção filosófica  do mundo elaborada especialmente para a França, uma nação culta e que se desenvolvia economicamente a passos rápidos e que somente foi aplicada na pratica no Rio Grande do Sul, região com uma economia agrária bastante atrasada.

Essa política positivista, visando a conciliação social, com  bastante autoritarismo começou a ser aplicada no Rio Grande do Sul por volta de 1880, adaptada à realidade gaúcha.

Com a proclamação da República o Partido Republicano Rio-Grandense assumiu a hegemonia da política estadual, sob a liderança de uma nova geração, apoiada por jovens oficiais do Exército. Os novos governantes trataram de destruir o velho liberalismo gaúcho, seguindo uma Constituição autoritária elaborada por Júlio de Castilhos.

A importância maior do Positivismo foi criar as condições jurídico-políticas para que o Partido Republicano Rio-Grandense se perpetuasse no Poder, o que aguçou a oposição política e conseguiu a destruição de qualquer forma de oposição mais consistente ao final da Revolução de 1893.


WALDIR PINTO DO AMARAL

Waldir Pinto do Amaral, advogado santiaguense formado pela Universidade de Passo Fundo, foi o segundo palestrante da segunda noite. Salientou a importância da constituição castilhista para implantar um regime ditatorial no Estado. Lembrou que Ramiro Barcellos e Assis Brasil, que deveriam ser co-redatores da mesma, foram omissos. O segundo, diplomata brasileiro no Uruguai, acabou dando apoio a Silveira Martins durante a Revolução.

Apesar dos Federalistas terem empregado todos os meios para afastar os castilhistas do poder, não o conseguiram e Júlio de Castilhos só deixou o governo porque quis, entregando o mando estadual a Borges de Medeiros que comandou o Estado até 1928.

A vinda de gente Uruguaia, para lutar dos dois lados, tornou a Revolução ainda mais violenta, o que se evidencia no Combate do Rio Negro, quanto 300 republicanos foram degolados pelos maragatos, o que teve revide no Combate do Boi Preto (então Município de Palmeira das Missões) quando 300 federalistas foram degolados pelos pica-paus.

A Revolução teve exemplos de heroísmo como o de Angelo Dourado, que acompanhou toda a Revolução tratando dos maragatos feridos e de civis doentes e legando um documento sobre as marchas revolucionárias intitulado “Voluntários do Martírio”.


WELCI NASCIMENTO

A Segunda noite do Seminário foi aberta pelo professor Welci Nascimento, da Academia Passo-Fundense de Letras, estudioso da história de Passo Fundo. Salientou que aquele movimento armado começou em Passo Fundo, ainda em 1891, quando republicanos e federalistas mantiveram grupos armados no Município, tanto que em janeiro do ano seguinte Passo Fundo era ocupada por forças revolucionárias, que mantiveram a ocupação durante algum tempo.

Prestes Guimarães só entregou o poder para uma junta governativa e desmobilizou sua gente quando a situação estadual mudou, reaparecendo meses de pois, na Fronteira, como um dos líderes da Revolução ao lado de Gomercindo Saraiva.

Estimulados pelas façanhas de Prestes Guimarães os federalistas, que eram muito fortes em Passo Fundo, Soledade e Palmeira das Missões, se reorganizaram e transformaram Passo Fundo num dos cenários mais intensos da Revolução.

Aqui foram realizados combates que ficaram indeléveis na memória desta terra – acrescentou o historiador – como os combates do Guamirim, do Passo do Cruz, do Umbu, do Valinhos, dos Três Passos, do Pulador ou Campo dos Mellos, que foi o mais mortífero de toda a Revolução, segundo os historiadores.

Terminada a Revolução, Passo Fundo estava arrasado. O município, que era um dos mais ricos do Estado, estava com seus campos desertos, sua economia comprometida e a população reduzida.


PAULO MONTEIRO

Coube-me a Segunda palestra daquela noite. Iniciei solicitando um minuto de silêncio em memória das vítimas causadas pelo processo revolucionário.

No Estado, segundo os historiadores, morreram mais de 11 mil pessoas. Em Passo Fundo, de acordo com levantamentos que efetuei em documentos daquela época, esse número é muito superior a mil, podendo ultrapassar duas mil mortes.

No Combate do Umbu (16/01/1894) morreram mais de 200 republicanos e cinco maragatos; no Combate dos Valinhos (08/02/1894) pereceram 220 combatentes e há testemunho de que mais de 80 prisioneiros foram torturados e mortos pelos republicanos, totalizando mais de 300 vítimas fatais; no Combate dos Três Passos (06/06/1894) morreram 39 federalistas e 150 pica-papus. Vencedores, os maragatos não fizeram prisioneiros. Saquearam e degolaram os adversários feridos; no Combate do Pulador (27/06/1894) o coronel federalista Veríssimo Igancio da Veiga, que ficou no local, contou os mortos e sepultou seus companheiros, listou 800 republicanos e 214 federalistas mortos, no campo da luta.

Conclusão: em quatro combates ocorridos no município de Passo Fundo morreram mais de 700 combatentes. E olhem que já identifiquei quase 20 combates travados aqui.

Lembrei o fato de que Passo Fundo foi colonizado por militares, pois era área ainda reivindicada pela Argentina. Baseado em documentos disse que a violência política era comum no Município, tanto que Prestes Guimarães e Gervazio Annes acusavam-se publicamente de violências praticadas pelos partidos que representavam. Tudo isso contribuindo para que o cadinho de ódios, entonado pela Revolução, fizesse com que a violência revolucionária, aqui, superasse a média do Estado.


RICARDO HENRIQUES

O advogado e oficial reformado do Exército, Ricardo Henriques, pesquisador das revoluções rio-grandeses, fez a primeira palestra da noite final do Seminário. Começou dizendo que hoje é muito fácil julgar pessoas e fatos ocorridos há mais de há cem anos.

É muito difícil analisar um combate isoladamente, especialmente no caso de uma revolução que tem muito mais de ideológica do que militar.

A maior parte das guerras e revoluções brasileiras, nos últimos duzentos anos, foram concentradas no Rio Grande do Sul, criando tradição guerreira entre os gaúchos de jamais se renderem. Aqui sempre se deu destaque à cavalaria, com batalhões de lanceiros

O Rio Grande do Sul chegou a contribuir com 1/3 do Exército Brasileiro e, se considerarmos os militares de outros estados casados com gaúchas esse percentual chega a dois terços.

O castilhismo, com uma proposta autoritária de governo, assumiu o poder no Estado e implantou um regime de destruição da oposição política, especialmente depois do Governicho. Assim, não restou à oposição senão o recurso às armas, chegando a invadir Santa Catarina e Paraná. E se os federalistas não perdessem tempo no cerco da Lapa é possível que tivessem derrubado o governo de Floriano Peixoto.

A Batalha do Pulador assume importância na História Militar por ter sido a primeira vez em que a metralhadora foi empregada em território brasileiro.

A concentração dos republicanos em quadrados aumentou ainda mais a mortandade. Nunca ninguém vai saber o verdadeiro número de mortos. O sangue das vítimas se misturou à água do banhado dando a impressão de que o sangue chegava às canelas das pessoa que ali foram, no outro dia, procurar corpos de parentes falecidos no combate.

Para Ricardo Henriques dizer que os republicanos foram vencedores é temerário, pois eles não ficaram no local do combate, preocupados em sepultar os feridos. Militarmente falando, é considerado vencedor quem permanece ocupando o local do combate, concluiu.

ISLÉIA ROSSLER STREIT

A professora Isléia Rossler Streit, da UPF, encerrou as palestras do Seminário lembrando que as pessoas costuma ignorar os fatos locais. Lembrou que o Rio Grande do Sul, no final do Século XIX, em poucos anos, sofreu profundas modificações econômicas, políticas e sociais e para entender isso precisamos despir-nos de nossas posições republicanas ou federalistas.

Novos grupos políticos emergiram no cenário estadual, fazendo surgir o Partido Republicano Rio-Grandense, que acabou dominando a política até 1930.

Enquanto no resto do país as elites só mudaram de lado, no Rio Grande do Sul surgiu uma nova elite, autoritária, que se manteve no poder através da fraude eleitoral, do clientelismo político e da destruição dos adversários durante a Guerra Civil.

Pela importância eleitora e pelo fato de ser uma área de ocupação recente, a Revolução assumiu características mais violentas nos municípios de Passo Fundo, Soledade e Palmeira das Missões.

Referências

  1. Da Academia Passo-Fundense de Letras e da Academia Literária Gaúcha